Menu & Search

Texto: Hermenegildo Langa

Fotos: Shutterstock e Arquivo

Especial Indústria | Download

Especial Indústria

O renascimento da indústria

Esta última edição de 2021 do “Especial Indústria” marca também um ano de parceria entre a AIMO e a Executive Mozambique. Já são seis edições de um períplo em nome do mapeamento do que se produz no país.

Cabo Delgado e Niassa são as últimas duas províncias escaladas e que renascem de anos de letargia causada pela instabilidade militar e pela pandemia. O renascimento chega pelas mãos dos projectos de gás, que tem, segundo a garantia dada pela Total Energies, o seu regresso para breve em um investimento de mais de USD 25 mil milhões, que pode também catapultar as outras indústrias, em uma província onde 87% de todo volume de negócio é desenvolvido por micro e pequenas empresas.

A agricultura, alicerçada em plantações de Eucaliptos e Pinheiros, que também marca este reflorestamento, é por onde Niassa trilha o caminho do desenvolvimento. São já mais de 2,4 milhões de hectares em um investimento que já ultrapassa USD 43 milhões.

A Baía de Pemba e a Reserva do Niassa, dois porta-estandartes de províncias geograficamente abençoadas, dinamizam a sempre surpreendente indústria do Turismo.

O mapeamento do PRONAI, recentemente aprovado pelo governo e parceiros, incluindo o sector privado industrial, potencia perspectivas de dias melhores para estas províncias, tendo como cartões-de-visita: (i) a Indústria de Papel, em Lichinga, (ii) o Parque Industrial de Cuamba, com uma forte componente agro-industrial, (iii) o Parque Industrial Petroquímico de Afungi, com uma forte componente de produção de fertilizantes, e o (iv) Parque Industrial de Balama, que poderá suprir as necessidades do mercado nacional e regional em produtos como lápis, baterias e painéis solares.

Terminamos este editorial que marca a última edição do ano, com desejos de festas felizes e de um 2022 melhor do que 2021.

Por uma indústria dinâmica, moderna e competitiva.

Osvaldo Faquir

Director Executivo – AIMO (Associação Industrial de Moçambique)

Breves

▶ South32 anuncia compra 25% de acções da Mozal

A mineradora australiana South32 Limitada anunciou, recentemente, a aquisição de uma participação adicional de 25% na fábrica Mozal. A mineradora comprou a participação adicional na fundição de alumínio por 250 milhões de dólares à Mitsubishi Corp Metals Holding. Com esta compra, as acções da South32 na fábrica de alumínio Mozal passam para pouco mais de 70%. Trata-se de uma medida que vai aumentar a produção anual da fundição em 15%.

▶ Lançado pacote de projectos de USD 800 milhões

O governo através do Ministério da Indústria e Comércio e a empresa chinesa West International Holding Limited (WIH) acabam de assinar um memorando de entendimento para a viabilização de um pacote de projectos de investimento no país, avaliados em cerca de 800 milhões de dólares, que visam a implantação de indústrias de cimento e clínquer, geração de energia eléctrica e de produtos derivados de vidro ecológico.

▶ Estado embolsa 15,5 mil milhões de meticais com os mega-projectos

Governo moçambicano encaixou, no primeiro semestre do ano em curso, 15,5 mil milhões em receitas fiscais provenientes dos mega-projectos. Segundo os dados do Ministério da Economia e Finanças (MEF), referente ao Relatório de Execução do Orçamento do Estado (REO), de Janeiro a Junho de 2021, a contribuição dos mega-projectos registou um crescimento em 57,9% em relação a igual período de 2020, ano em que o Estado embolsou 9,8 mil milhões de meticais. O sector de exploração de petróleo foi o que mais contribuiu no período em análise, tendo atingido 7,4 mil milhões de Meticais, contra 4,2 mil milhões de Meticais do período homólogo.

▶ Governo espera “propostas firmes” pela mina de carvão da Vale

O ministro dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, garantiu, recentemente, que o processo de desinvestimento da Vale está a prosseguir conforme o cronograma estabelecido.

Os investidores interessados em comprar a concessão de carvão da empresa brasileira Vale na província de Tete vão apresentar “propostas firmes” até Dezembro, disse Max Tonela.

Tonela disse que o Governo irá depois avaliar o potencial das empresas e pronunciar-se sobre o cumprimento da legislação moçambicana sobre esse tipo de transações, devendo o processo de desinvestimento da companhia brasileira em Moçambique ser concluído até 2022.

Cabo Delgado e Niassa

Uma indústria a renascer

 O projecto de exploração de gás natural na bacia do Rovuma é até agora o maior projecto da província de Cabo Delgado. Depois, seguem os projectos de exploração de pedras preciosas (rubis e ouro) no distrito de Montepuez e Balama.

Nesta última década, Cabo Delgado orgulha-se de dispor do maior projecto de investimento no pós-independência, que está avaliado em cerca de 25 mil milhões de dólares pela petrolífera francesa Total Energies.

No entanto, ainda que a economia de Cabo Delgado esteja a ganhar algum alento nestas últimas décadas, a pandemia e instabilidade militar, que assolou a província  nos últimos três anos, comprometeram os investimentos. A insurgência armada obrigou a paralisação de actividades de exploração de gás natural em Março deste ano.

Dados da Confederação das Associações Económicas (CTA) apontam para perdas de 209 milhões dólares e encerramento de 1.110 empresas devido aos ataques armados.

Segundo dados da direcção provincial da Indústria e Comércio de Cabo Delgado, 87% de todo volume de negócio em Cabo Delgado é desenvolvido por micro e pequenas empresas.

O surgimento da pandemia no ano passado também não deixou de criar prejuízos.

A Montepuez Ruby Mining (MRM), uma empresa que explora a mina de rubis no distrito de Montepuez, ao sul de Cabo Delgado, viu as suas actividades comprometidas.

“Em 2020, como resultado da pandemia, MRM viu zero receitas. A mina foi suspensa de Abril de 2020 a Março de 2021”, revelou a empresa em contacto com a Índico, para depois sublinhar que “felizmente, conseguimos passar sem despedir nenhum trabalhador, devido ao apoio financeiro prestado pela maioria accionista, Gemfields Limited, que detém 75% da MRM em parceria com Mwiriti, empresa moçambicana, que detém 25%”.

Cabo Delgado dispõe da terceira maior baía do mundo, a baía de Pemba, acompanhada pela praia do Wimbe e as Ilhas do arquipélago das Quirimbas como incontornaveis pontos. Por isso a direcção provincial da cultura e turismo de Cabo Delgado, considera haver muitos aspectos que tornam a província numa referência turística. “Somos o maior arquipélago do país, temos mais de 32 ilhas, temos a primeira Reserva Mundial de Biosfera nas Quirimbas e, quem lá vai, quer ficar e não voltar mais, porque é extremamente lindo”, faz notar a directora do pelouro Iolanda Almeida, com esperança de que os últimos desenvolvimentos para a garantia de segurança possam recolocar a província na rota do turismo.

Já Niassa, com uma área de 122.827 quilómetros quadrados, é uma província rica em recursos naturais e com extensas áreas férteis para agricultura.

Nos últimos anos, várias companhias internacionais, mas com participações minoritárias de moçambicanos, chegaram atraídas pelo elevado potencial de produção de madeira do Niassa. São elas Chikweti Forests of Niassa, Companhia Florestal de Massangulo, Florestas de Niassa, Florestas do Planalto, Green Resources e a New Forests que exploram cerca de 2,4 milhões de hectares com plantações de eucaliptos e pinheiros.

Estas companhias dinamizaram o ritmo de toda a província, em particular de Lichinga, a capital, em que abriram muitas filiais de bancos. Até à data, as seis companhias investiram na província um valor global que ronda os 43 milhões de dólares.

A cultura de tabaco também merece destaque em Niassa. Só no em 2020, a produção do tabaco rendeu aos produtores cerca de 53,2 milhões de meticais.

A cultura do tabaco nesta província, fomentada pela Moçambique Leaf Tobacco, é praticada em 16 distritos.

Segundo o director do Serviço Distrital de Actividades Económicas em Metarica, por sinal o distrito onde a cultura é mais predominante, Dário António, nos últimos a produção do tabaco tem vindo um aumento significativo quando comparado com os anos anteriores.

“A receita alcançada pelos produtores de tabaco de Metarica durante o processo de comercialização da produção da última campanha agrícola foi de cerca de nove milhões de meticais, contra os 25,2 milhões de estimativa da safra em curso”, disse o responsável.

A beneficiar de uma área de mais de 6.000 km2 no território moçambicano, o Lago Niassa joga um papel importante na economia da província, em termos turísticos mais também pesqueiros. Estima-se que cerca de 6.000 pescadores divididos em 165 centros de pesca do Niassa.

A reserva nacional de Niassa por si destaca-se. Afinal, é uma das últimas regiões selvagens preservadas de África.

Actualmente, a administração da reserva nacional de Niassa, em parceria com a Wildlife conservation society, tem um plano de gestão de 10 anos (2019-2029) para melhor fazer participar as populações locais na tomada de decisões, bem como preservar as conquistas em termos de conservação da biodiversidade e promover o bem-estar e os meios de subsistência das 60 000 pessoas que vivem na reserva.

Publicidade

CASOS DE ESTUDO

Ruby Mining: a pedra que brilha em Montepuez

Há 10 anos que Montepuez Ruby Mining (MRM) opera no mercado moçambicano, sobretudo no distrito de Montepuez, a sul da província de Cabo Delgado. O seu contributo tem sido muito relevante para a economia da província, tornando-se num dos maiores contribuintes em receitas fiscais.

Detida pela britânica Gemfields Limited, com 75% em parceria com empresa moçambicana Mwiriti, que detém 25%, a MRM tem sido o contribuinte número um na província de Cabo Delgado em todos os anos de 2014 a 2019.

“Desde o primeiro leilão de rubis em 2014, a MRM vendeu um total de 13,6 milhões de quilates de rubis em bruto e gerou 643 milhões de dólares em receitas totais em 14 leilões (o mais recente dos quais concluído em Abril de 2021)”, disse a direcção da MRM à Índico.

Em 2019, fruto de receitas de leilões de rubis, a empresa conseguiu gerar 122 milhões de dólares.  No entanto, em 2020, devido à pandemia que forçou o enceramento de actividades em Abril, fechou o ano sem receitas.

“A mina foi suspensa de Abril de 2020 a Março de 2021. A pandemia teve um sério impacto na capacidade da Gemfields de realizar leilões de pedras preciosas no seu formato regular”, concluiu.

A MRM é considerada a maior mina de rubi do mundo responsável por 60% da produção mundial.

DH Mining: empresa que quer impulsionar o desenvolvimento do Niassa

Embora a província do Niassa esteja a trilhar o caminho do desenvolvimento, novos sinais indicam que a província poderá conhecer bons resultados económicos a breve trecho. O contentamento resulta do anúncio do arranque de actividades de exploração de grafite pela empresa chinesa DH Mining Development Company.

A operar no distrito de Nipepe, a companhia chinesa pretende começar em 2022 a explorar e processar grafite para o mercado internacional. Segundo o Governo local, com o arranque dessas actividades, a província poderá sem dúvida conhecer novo rumo de desenvolvimento económico que há muito tarda a acontecer.

Segundo o responsável pelos Recursos Minerais e Energia no Niassa, Silvino Bonomar, o projecto avaliado em USD 30 milhões de dólares já está numa fase avançada. “Agora está em curso o processo de instalação do equipamento de mineração, da construção do armazém e da unidade de processamento de grafite”, disse Bonomar.

Dados avançados pelo governo do Niassa, a mina de grafite a qual a DH Mining Development Company é concessionária dispõe de mais de cinco milhões de toneladas. Depois da mina de Moma, na província de Nampula, esta é segunda mina de grafite a ser explorada no país.

Especial Indústria | Download

0 Comments

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.