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Texto: Paola Rolletta

Fotos: Mauro Pinto

Edição 70 Nov/Dez | Download.

Uma casa de vidro

Quando o ambientalista Carlos Serra lançou a campanha de limpeza da praia, em 2015, deu-se conta que o lixo que invadia a Costa do Sol não era apenas feito de plástico. Havia muito vidro: garrafas inteiras, cacos e afins, um autêntico perigo para os utentes. Foram dezenas de milhares de garrafas de todo o tipo que “brilhavam” entre os grãos de areia. O plástico vinha sendo recolhido e já haviam surgido alguns projectos de reciclagem, numa cadeia de valor completa. Mas para o vidro não havia nenhum proveito apesar de ser muito mais valioso.

Afinal, o vidro pode ser reciclado infinitamente sem nunca perder as suas qualidades. A reciclagem do vidro poupa as matérias-primas e limita a abertura de novas pedreiras. O vidro produzido a partir de resíduos de vidro reduz a poluição do ar em 20% e a poluição da água em 50%. A energia economizada pela reciclagem de uma garrafa de vidro pode acender uma lâmpada de 100 watts durante 5 horas.

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“Durante a pandemia – conta Serra – seguimos o caminho do vidro por toda a costa moçambicana. Não se trata apenas de garrafas deitadas pelas pessoas. Muito do vidro, juntamente com outro material pesado, vem directamente das valas de drenagem.”

A baixa consciência ambiental, falta de sistema de retenção nas valas e a falta de mercado para esse tipo de material fizeram surgir uma ideia. Por que não usar o vidro para construir? Pois há também aqueles que, em vez de tijolos, usam garrafas de vidro para construir as suas casas.

Com o apoio da cooperação norueguesa e alguns privados (CDM e Macaneta Beach Resort), a associação de Carlos Serra meteu mão “no vidro” e construiu a Casa de Vidro na Macaneta.

Foi lançada a campanha de recolha, catadores nas comunidades foram pagos 1 metical por quilo de vidro, só de garrafas descartáveis.

Foram 150.000 garrafas: os cacos substituíram a brita, o pó de vidro a areia e as garrafas viraram blocos. O custo da construção ronda os 500 mil meticais.

Já a Casa de Vidro resplendece nesse lugar maravilhoso, onde não foi cortado nem um arbusto para a sua construção. A cozinha foi construída à volta de um coqueiro, o guardião das comidas que aí serão confeccionadas. A Casa de Vidro é autossustentável, energia solar e captação de água pluvial, e é o coração de um projecto mais ambicioso: o ecocentro na Macaneta, uma escola ambiental, um poema feito de sinais, que resume essencialmente a nossa passagem por este mundo.

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