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Texto: Vittoria Di Lelio

Foto: Dilayla Romeo

Edição 72 Mar/Abr | Download.

Ethale Publishing – Uma editora que promove narrativas africanas

Há alguns anos, um realizador congolês veio a Maputo para fazer um documentário sobre a cidade, filmando a avenida Vladimir Lenine. Ele achava que aquela avenida representava todas as idiossincrasias da história do país inteiro, do prédio 33 Andares ao mercado informal do Xiquelene. O documentário nunca viu a luz, o realizador foi embora e a avenida ficou a viver a sua vida de sempre.

Chapas, carros, gentes e lojas de todos os tipos, roupas, mercearias, cafés. Ninguém teria apostado em abrir uma livraria porque, se sabe, o negócio livreiro não é rentável. Mas ainda bem que existem corajosos e visionários neste mundo: dois jovens lançaram-se na aventura e abriram a livraria Ethale, na Avenida Vladimir Lenine nr. 2195, a filha da editora Ethale (conto, história, narrativa em emakhuwa).

A editora Ethale, por sua vez, é filha do Festival “Fim do caminho” que de 2014 a 2017 teve lugar em Mossuril e na Ilha de Moçambique. Um Festival de Cinema e Literatura, feito por três jovens, Alex Macbeth, Anna Di Giola e Jessemusse Cacinda. Levaram escritores, debates e ideias sobre africanidade, diversidade, criatividade e imaginação, durante três anos. Anos ricos de experiências, aprendizagem e surpresas amargas também. Como quando anunciaram 6 livros de clássicos africanos traduzidos em português para o prémio do concurso literário sobre contos policiais. No mercado, não havia nada disso. Poucos autores traduzidos. Nenhuma circulação das narrativas africanas em África. Além disso, muitos participaram do concurso e apresentaram contos policiais. O júri seleccionou 15 deles para serem publicados. Aí surgiu a ideia de fundar uma editora. Com ela tiveram que aprender rapidamente a ultrapassar as imensas dificuldades da indústria do livro.

“Alguns dias depois, a Ethale Publishing nasceu com uma dupla missão: publicar novas vozes em Moçambique e, por outro lado, traduzir a ficção africana clássica para o português – conta Alex Macbeth – ambas seriam um investimento em narrativas africanas. Formámos uma empresa e em Junho de 2017 estreámos com a nossa antologia criminal, O hambúrguer que matou o Jorge”.

A Ethale é hoje uma realidade em crescimento na arena global, em vários canais, graças às novas tecnologias.

Em Setembro de 2021, a editora participou em parceria com a Fundação Moleskine, no evento AfroCuration em Moçambique como parte da Iniciativa de Educação WikiAfrica: mais de 70 jovens voluntários aprenderam a criar e editar os primeiros artigos da Wikipédia na língua emakhuwa.

A Ethale traduziu e publicou “A morte e o Cavaleiro do Rei” de Wole Soyinka, prémio Nobel para a Literatura em 1986, também “A greve dos mendigos” de Aminata Sow Fall e “Matigari” de Ngugi wa Thiong’o.

Bem-vindo, Welcome, Karibu na Avenida Vladimir Lenine

 “Somos uma editora vocacionada na promoção de narrativas africanas. A nossa visão de africanidade vai para além do espaço físico e geográfico. É uma noção acima de tudo cultural e filosófica – explica Jessemusse Cacinda – consideramos africano não apenas a aquele que possui um bilhete de identidade que o conecta a um país africano, mas aquele que vive as culturas africanas e toma-a em consideração para construir as suas visões de mundo”.

“Não fazíamos ideia do que estávamos a fazer ou do que devíamos estar a fazer: sabíamos apenas que tínhamos de enfrentar a escassez de livros no país – comenta Alex Macbeth – cinco anos, 15 livros e várias colaborações depois, estamos a lançar uma aplicação trilingue para livros africanos, a Ethale Books App live no Google Play Store, a primeira plataforma digital para livros electrónicos em Moçambique”.

O que dirá o realizador congolês da próxima vez que vier a Maputo?

Edição 72 Mar/Abr | Download.

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