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Texto: Eduardo Quive

Foto: Yassmin Forte

Edição 73 Maio/Jun | Download.

Bring Back Maputo – A cidade arco-íris

Maputo, cidade cosmopolita, quase sem pertencer a ninguém é hoje de todos, sobretudo em lugares onde a penumbra e o retrato dos dilemas sociais no espaço urbano não deixavam ver o brilho das ruas que até foram declaradas zonas históricas. Foram longos tempos nas sombras e monotonia. Mas aí está o arco-íris a anunciar novas rotinas.

Bring Back Maputo é o nome que se deu à iniciativa que pretende “trazer de volta Maputo”.

As cores vivas trouxeram vida, arte e charme para a cidade. Passar hoje pela Rua de Bagamoyo, Rua da Gávea ou Rua de Arte é beijar o arco-íris, é renovador e tem estilo. A baixa da cidade é agora um lugar de passagem com paragem obrigatória para contemplar e registar o belo, entre a arte da mistura de cores, sonhos e imaginações e mensagens positivas.

Sebastião Coana, artista plástico também com formação em arquitectura, é quem assina as mais emblemáticas obras responsáveis pela mudança da paisagem da capital. Sem dúvidas, um nome a associar-se a outros históricos responsáveis por uma paisagem urbana apreciável de Maputo. Mas este foi pelo pincel e pela vontade de transformar e impactar vidas.

Sempre que fala da sua acção como artista que trouxe sorriso para Maputo, com as cores do afecto, quentes e fortes, mas com mensagens por passar, refere-se ao “poder da arte”. O poder de revitalizar a estética urbana e de gerar um impacto. No caso deste projecto, a inclusão social. Mas começa por nos explicar que transformar assim uma cidade não pode ser um trabalho cujos créditos cabem apenas num nome.

Bring Back Maputo é o nome que se deu à iniciativa que pretende “trazer de volta Maputo”.

“A ideia é mais do que Sebastião Coana. É verdade que sou o artista plástico mentor, mas para fazer um mural preciso envolver outros.” Esses outros foram jovens sem obrigo ou em situação de vida vulnerável devido a extrema pobreza. Mas não só envolveu-os em algo grandioso, como de resto para si importa pouco devido a sua condição, mas para capacitá-los, dando-lhes uma profissão – a de pintor – ou então envolvê-los em outros projectos de pintura que surjam.

“O mercado é muito grande e há espaço para inserção desses jovens. Quando andamos pela cidade vemos pinturas de publicidade de grandes marcas e até multinacionais de bebidas e produtos de primeira necessidade. Os jovens envolvidos aprendem a fazer aquele tipo de pintura e aquela é uma indústria que vai existir em Moçambique por mais anos e pode ser uma fonte de renda”, disse.

Sebastião Coana pensa nas comunidades e em pessoas reais, com problemas que acredita que a arte pode ajudar a resolver

Voltando-se para o trabalho artístico que transformou a cidade de Maputo e que assume que ainda está em curso, porque há vários lugares da cidade que precisam de ganhar vida, o artista plástico fala de um processo que ultrapassa o da vontade de expressar-se apenas em arte pela arte. Porque o seu trabalho envolve as comunidades e pessoas reais, com problemas que acredita que a arte pode ajudar a resolver.

“Se olharmos para as pinturas feitas na baixa da cidade de Maputo, por um lado elas remetem para a importância da educação da rapariga. As meninas que frequentam aquela zona, prostituindo-se, algumas não tiveram acesso à educação e nem sentiram o seu valor para poder abraçá-la. Outra obra mostra alternativas de mobilidade urbana, como, por exemplo, o facto de as pessoas ao invés do carro, poderem ir trabalhar de bicicleta.”

Os mais recentes trabalhos foram feitos no muro de cerca de 300 metros de cumprimentos e três metros de altura no Mercado do Povo e nas escadarias de Maxaquene, na zona do Museu. “Veja-se o ambiente em que ela está. No meio de uma zona histórica: o edifício do Conselho Municipal, a Casa de Ferro, o Museu Nacional de Arte, temos ali dois centros culturais, a Rádio Moçambique, etc. No meio daquilo trouxe arte contemporânea, que põe as pessoas numa terapia de cores, porque grande parte dessas pessoas que por ali anda está concentrada ou stressada porque saem de escritórios. Então, criei uma terapia de cores que possa distrair-lhes, mas atraindo-os para a obra. É quase com o mesmo efeito nas escadarias de Maxaquene.”

Como pessoa, Sebastião Coana está satisfeito com os resultados deste projecto. E, como artista, sente que finalmente pode a arte ser comum às pessoas, mas ainda aspira por um grande movimento nacional que chame atenção do mundo.

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