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Texto: Eduardo Quive

Fotos: Amilton Neves

Edição 73 Maio/Jun | Download.

Kátia Manjate – Viver a Dança

Aos 38 anos, Kátia Manjate, bailarina e coreógrafa, encara a carreira com a determinação que só em palco se define.

Tudo começa quando, ainda a frequentar a Escola Primária 16 de Junho, pensou em alguma coisa para fazer depois das aulas e que não acarretasse custos para a mãe. Encontrou na Casa da Cultura do Alto-Maé esse espaço.

“Quando entrei na sala de ensaio, vi os músicos a ‘rebentar’ com os batuques e corpos a transpirar, fiquei arrepiada”. E foi pronta a entregar-se para a força avassaladora da arte. Kátia Manjate foi dando o corpo à dança e dança ao corpo. Ainda adolescente seguiu determinada o estrondo dos batuques frenéticos que quase definem a vida.

“Quando percebi que tudo que pensava e fazia se conectava à dança, que toda a minha formação que não fosse em dança era para sustentar a dança, que os meus tempos livres quando não estivesse a ensaiar estava a dançar, passei a viver para a Dança.”

Dois espectáculos de dança consolidaram a sua carreira enquanto criadora. “Casa” (2013) e “Sexo (Con)sentido (2019), caracterizados pelo uso do corpo para a representação da mensagem.

Iniciou em 1994, a formação em danças tradicionais moçambicanas e prosseguiu, em 2003, mas com um outro rumo, a Dança Contemporânea, entre Moçambique e Portugal. Sua profissionalização passou por experiências com profissionais da área da África do Sul, Venezuela, Holanda, Suíça, RD. Congo, França, Burkina Faso, Senegal.

Mas as suas raízes são sempre locais. Três mulheres que até hoje são uma referência para a Dança, saltaram-lhe à vista logo cedo, Joaquina Siquice, Maria José Macamo e Maria Helena Pinto. “Naquela altura era quase impensável que mulheres pudessem atingir aquele nível físico e técnico.”

Dois espectáculos de dança consolidaram a sua carreira enquanto criadora. “Casa” (2013) e “Sexo (Con)sentido (2019), caracterizados pelo uso do corpo para a representação da mensagem. Sim, porque Kátia Manjate tem na dança a formulação do discurso não só do interior, mas da sociedade. Em “Casa”, que teve a colaboração em palco da bailarina malgaxe, Judith Namantenanssoa e do artista plástico moçambicano, Walter Zand, o corpo é esse lugar de confrontações existenciais, “cidade imaginária em estado de choque, insegurança e para(lisa)da. E em “Sexo (com)sentido”, mais uma vez a bailarina explora o corpo para levantar questões sobre os direitos humanos, liberdade e sexualidade feminina.

Neste momento, encontra-se em processo de pesquisa e criação para dois projectos artísticos que surgiram durante o isolamento causado pela pandemia do novo coronavírus. Um dos quais é “Dança dos Deuses”, um trabalho que envolve Dança e Fotografia que teve pré-estreia em Barcelona, em 2021.

Numa área que desafia o talento e a prática, Kátia Manjate mostra-se perseverante e ambiciosa. “Temos que trabalhar como homens e cuidar da casa como mulheres. Para uma mulher evoluir na carreira artística tem que mostrar que é ‘muito boa’ e provar o seu talento.”

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