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Textos: Elton Pila (em Manica e Sofala) Hermenegildo Langa

Fotos: Jay Garrido e Cristiana Pereira

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Especial Indústria

EDITORIAL

NO CENTRO DA INDÚSTRIA

A 3ª edição do Especial Indústria tem como principal foco a região centro do país, nomeadamente as províncias de Manica, Sofala e Tete, visando mostrar o potencial do sector industrial nesta região bem como o seu contributo para a economia nacional. Nesta edição, são abordadas as potencialidades destas províncias, sobretudo na área do agro-negócio em Manica e Sofala, que tem vindo a desenvolver significativamente. Esta edição destaca, também, a DECA (Desenvolvimento e Comercialização Agrícola, Limitada), que opera em negócios de compra e processamento de milho. A empresa construiu marcas fortes em Moçambique e pretende usar essas bases para crescer e diversificar ainda mais a sua gama de produtos. Ainda na província de Sofala, destaca-se a Açucareira de Mafambisse, uma das fábricas de açúcar mais antigas de Moçambique, que tem dado o seu contributo no desenvolvimento das comunidades locais. Na província de Tete, o enfoque vai para o sector extractivo, que é considerado o epicentro da economia da província e fomentadora de inúmeras PME´s, sobretudo de prestação de serviços e bens.

Para terminar, realce-se que as edições “Especial Indústria” têm vindo a posicionar-se como uma plataforma de expansão do network de negócios e parcerias a nível local e nacional. Por isso, a AIMO e a Executive Moçambique reiteram o compromisso de, no âmbito da parceria estabelecida, trazerem ao grande público o suplemento Especial Indústria nas seis edições já anunciadas em edições anteriores. No final, será lançada uma publicação condensando todo o material recolhido, num evento em formato de conferência económica e industrial. Por uma indústria dinâmica, moderna e competitiva.

Osvaldo Faquir

Director Executivo da Aimo (Associação Industrial de Moçambique)

BREVES

▶ IFPELAC e CETA aliam-se a formação de técnicos industriais

Estabelecer uma parceria para partilha de boas práticas na formação técnica foi o objectivo do lançamento do programa de treinamento de técnicos industriais moçambicanos designado “Train the Trainer”. O programa lançado recentemente visa habilitar os técnicos industriais para melhor prestação no sector industrial, e conta com apoio do Instituto moçambicano de Formação Profissional e Estudos Laborais Alberto Cassimo (IFPELAC) e a empresa sul-africana CETA.

▶ Governo quer melhorar políticas fiscais para indústria

O Governo reafirma o compromisso de continuar a melhorar as políticas fiscais, monetárias e sectoriais para facilitar a realização de investimentos nacionais e estrangeiros no sector industrial moçambicano. Segundo as declarações do primeiro-ministro, Carlos Agostinho do Rosário, na abertura do Seminário económico sobre a industrialização integrada, o governo tudo fará para estimular o desenvolvimento da indústria no país.

▶ Lançado III Fórum de Comercialização Agrícola

Exortar aos produtores e intervenientes no processo de comercialização para o início da campanha de comercialização agrícola 2021 foi o objectivo do Lançamento do III Fórum Nacional de Comercialização Agrícola. Organizado pelo Ministério da Indústria e Comércio, sob o lema “Comercialização Agrícola, Dinamizadora do Agro-negócio e Industrialização”, o evento serviu igualmente para divulgar as acções de intervenção dos agentes económicos na cadeia de valor da comercialização agrícola e melhorar a coordenação entre os produtores e intervenientes da cadeia de valor produtiva e comercial.

▶ Governo lança Projecto “Promove Comércio”

O projecto “Promove Comércio” é uma iniciativa recentemente lançada pelo Ministério da Indústria e Comércio (MIC) e a União Europeia que visa melhorar o ambiente de negócios, comércio e criar competitividade para as exportações em Moçambique.

Do conjunto dos objectivos a alcançar com o projecto, constam ainda modelar, contextual e estruturalmente, o selo Made in Mozambique, potenciar a melhoria da qualidade, certificação e imagem da produção nacional, bem como consolidar o apoio estratégico à modernização das Micro, Pequenas e Médias Empresas.

Moçambique discute parques eco-industriais

Como os parques industriais podem ser geridos de uma forma sustentável em Moçambique foi o tema do debate do seminário sobre a implementação de abordagens dos Parques Eco-Industriais (PEI) em Moçambique organizado pela ICRFacility Mozambique, uma empresa que presta assistência técnica para facilitar o desenvolvimento de parques eco-industriais no país. O debate que decorreu via online, contou com a presença de representantes da União Europeia em Moçambique e do Parque Industrial de Beluluane.

Sofala, Manica e Tete

Uma indústria para transformar vidas

 Se o crescimento da economia de um país se mede pelo crescimento das indústrias, o sucesso das indústrias mede-se (ou devia medir-se) pelo envolvimento das comunidades que as cercam, do sentimento de pertença que faz do empreendimento uma bandeira comunitária. E fazer com a comunidade para a comunidade e para os outros parece ser o mantra das indústrias que visitámos nas províncias de Sofala, Manica e Tete, uma indústria para transformar vidas.

Estas províncias, que fazem parte da região Centro, já deram provas do seu papel no circuito industrial de Moçambique, com uma diversidade de sectores, indo da agro-indústria à indústria extractiva, passando pela indústria transformadora.

Tem sido a mola impulsionadora da região, o Porto da Beira, gerido pela Cornelder de Moçambique, que liga directamente, quer por via rodoviária ou ferroviária, os principais mercados do hinterland da África Austral como o Zimbabwe, Malawi, Zâmbia, Botswana, República Democrática do Congo, bem como ao mercado local e às rotas do comércio internacional. Acaba sempre por ser estratégico para a internacionalização da produção local e regional.

Se sob o ponto de vista de infra-estrutura o Porto da Beira é a bandeira de Sofala, sob o ponto de vista de indústria a açucareira de Mafambisse é a bandeira maior. Mas há outros empreendimentos, sobretudo, na indústria alimentícia.

Já Manica é uma província com grande potencial agro-ecológico, onde o clima, solos e relevo são favoráveis à produção agro-pecuária e florestal, com destaque para cereais, gado bovino, espécies florestais nativas e exóticas. Na criação, processamento e comercialização de gado bovino destaca-se a empresa Moz Bife, sedeada no distrito de Chimoio; na criação, processamento e comercialização de frangos, a Agro-pecuária e Avícola Abílio Antunes sedeada no distrito de Vandúzi; a MOZAGRI, sedeada no Distrito de Báruè, tem como ramo de actividade criação, processamento e venda de Carne de Cabrito; a empresa DAN MOZ e Agromaco se dedicam a produção e comercialização de Yogurte, todas sedeadas no Distrito de Chimoio, para além de pequenos intervenientes localizados noutros distritos. A produção pesqueira também tem sido um caminho que a província tem estado a seguir, são mais de 10 mil toneladas ano de pescado diverso.

Ainda em Manica, visitamos à Mozambique Fertilized Company, uma empresa que se dedica a produção de fertilizantes que servem de base para agigantar a produção de diversas culturas agrícolas de agricultores locais, que é também exportado para países como Zimbabwe. Mas há também potencialidades hidrográficas e recursos minerais como ouro, turmalinas, material de construção e águas minerais.

A província de Tete é outro pólo a ter em conta. Já há duas décadas que passou a ser considerado o el dorado do país por dispor de um dos maiores jazigos de carvão mineral. A indústria extractiva em Tete é o sector que quase ofusca o resto de actividades, com 85% das receitas da província a provir do carvão, sendo ainda responsável por fazer despontar outros ramos de actividades sobretudo os de prestação de serviços e bens através das pequenas e médias empresas (PME).

Além do carvão mineral, há também em Tete uma das maiores barragens hidroeléctricas de África, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa, a 18º mais importante do mundo, com uma capacidade de produção máxima anual de 18 mil GWh e que abastece o país e vizinhos como a África do Sul, Malawi, Zâmbia, Zimbabwe. Está em carteira o projecto de produção de energia através do carvão produzido em Moatize.

ESTUDOS DE CASO

Hidroeléctrica de Cahora Bassa

A luz para o futuro

No país, sempre que se fala de energia eléctrica, somos remetidos à Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), apesar de ser a Electricidade de Moçambique (EDM) a entidade gestora da rede eléctrica. Claro, a EDM é entidade fornecedora, mas há quem produz, que é a HCB, desempenhando, desta forma, um papel fundamental no sistema nacional de energia.

Embora a pandemia da Covid-19 tenha abalado quase todas instituições no mundo, inclusive em Moçambique, a HCB tem, até aqui, como se contentar, pois, conseguiu superar a meta de produção de energia traçada para 2020. Segundo os dados revelados pela firma, em 2020, a produção fixou-se em 15 302 gigawatts, uma cifra que representa 4,7% acima da produção do ano anterior.

Para os gestores do HCB, “este resultado só foi possível graças aos planos de modernização do parque electroprodutor e dos processos de operação e manutenção que têm vindo a ser implementados, com o objectivo de melhorar os índices de fiabilidade de energia e disponibilidade de equipamento”.

Mais do que isso, há planos futuros que visam tornar esta empresa cada vez mais sustentável. Para isso, a direcção do HCB entende que o futuro desta passa por aumentar a sua capacidade instalada de 2 075MW dentro dos próximos dez anos de forma a atender a demanda nacional e regional.

DECA e o empoderamento de pequenos produtores

A DECA, Desenvolvimento Comercial Agrícola, foi fundada em 2005. Mas apenas em 2008 é que começaram as actividades. Os primeiros três anos foram de contacto com agricultores locais para garantir a produção de farinha de milho. A empresa nunca teve farmas. Desde o primeiro momento, se propôs a ser quem processa, deixando a parte anterior, a da produção de matéria-prima, no caso o milho, para os agricultores locais. A princípio não chegavam a 500, mas volvidos mais de 10 anos, os registos mostram cerca de 220 000.

A DECA tenta ao máximo ultrapassar possíveis mediadores, buscando sempre comprar o milho directamente de pequenos agricultores locais, por meio de uma rede de compra estabelecida em pontos específicos em toda a região de Chimoio. “É nossa forma de emancipara a comunidade” diz-nos a equipa da fábrica. Não há limites mínimos de compra, desde o agricultor que se propõe a vender apenas 10 quilos ao que se propõe a vender toneladas há espaço de negócio para todos.

O milho é depois transportado para as instalações de processamento e armazenamento especificamente construídas pela DECA em Chimoio, onde é seco, fumigado, preparado e transformado em farinha de milho, um alimento básico fundamental na região e no país como um todo.

Hoje, a DECA é uma referência na zona Centro. Ao processamento de farinha de milho juntou-se a produção de puffs and Nik Naks, farelo e ração e o processamento de carne bovina, que é vendida com o rótulo da Mozbife. O gado é comprado também de criadores locais, são agora cerca de 20 mil os fornecedores, tendo a empresa um rancho que se dedica ao melhoramento, através da engorda, do gado antes do abate.

Açucareira de Mafambisse

Uma parceira da comunidade

A açucareira acabou levando o nome do Posto Administrativo em que está inserida, Mafambisse. Mas não é apenas o nome. Esta Indústria tem na esmagadora maioria dos seus 1500 trabalhadores naturais deste Posto Administrativo. Mas há mais: apesar de ter um canavial próprio, que continua com cortes manuais para que trabalhadores não percam emprego, é da comunidade com plantações próprias que chega 12% da produção, que pode sempre subir.

Agora, com a necessidade de rotatividade de culturas, foi iniciado o projecto de cultivo de arroz em regime de empréstimo de terra – em até 10 anos – aos agricultores locais. A primeira safra já começou a ser colhida e está em processo abertura de uma fábrica de arroz, uma parceria entre a fábrica e a comunidade.

Mas também existe a criação de peixe Tilapia em viveiros, um projecto idealizado e dinamizado pela açucareira em parceria com piscicultores locais, que também serve para gerar renda e dar autonomia às famílias nas zonas circunvizinhas.

Com uma produção anual de mais de 30 mil toneladas, distribuída para toda zona Centro e Norte e também exportada para Europa, a açucareira de Mafambisse viu as contas da Covid-19 mudarem o peso da balança, a produção ficou aquém, desde logo porque as restrições impostas pela pandemia tornaram o plantio e colheita mais lentos. Mas porque a pandemia parece não disposta a dar tréguas tão cedo, o exercício da açucareira é adaptar-se a nova realidade e buscar superar os números globais de 2020.

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