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Texto: Eta Matsinhe

Foto: Operation Water

Edição 72 Mar/Abr | Download.

Operation Water 

Marca d’água

Em diversas regiões de Moçambique, as mulheres e crianças chegam a fazer caminhadas de mais de uma hora em busca de água para o consumo doméstico. Tal água nem sempre é própria para o consumo humano. Ao perceber e ver os problemas que a falta de acesso a água potável traz para a vida de milhões de moçambicanos, Ryan Phillips-Page teve a ideia de criar o empreendimento social Operation Water.

Levar uma solução sustentável para o problema de acesso a água potável, que afecta 49% da população moçambicana e reduzir o tempo que as mulheres e crianças levam para buscar água para o consumo doméstico, é o principal objectivo da Operation Water, tendo como meta beneficiar 300. 000 pessoas em Moçambique, numa fase inicial.

Habitualmente, os projectos de melhoria do acesso a água para as comunidades no interior de Moçambique focam-se na abertura de furos e poços em uma espécie de centro para onde as pessoas deslocam-se para buscar água. Estes sistemas exigem algum esforço físico e não resolvem na totalidade o problema do acesso a água potável. Para fazer face a isto, a Operation Water trabalha no estudo de qualidade da água de cada região para compreender quais as necessidades em termos de tratamentos químicos e assim tornar a água limpa e segura para o consumo humano.

Gurué, o ponto de partida

A Operation Water trabalha no modelo de parceria público-privado, com participação do Governo e algumas empresas privadas do sector de energia eléctrica e gestão de sistemas de abastecimento de água.

O projecto Operation Water vem sendo desenhado já há alguns anos, mas a assinatura do concessão com o Governo só teve lugar em Abril de 2021 e prevê a construção de 8 sistemas de abastecimento de água. É a primeira e única concessão de provisão de água e a mais longa concessão de que se tem conhecimento, são 30 anos.

Com a assinatura do concessão, a ideia de levar água para mais moçambicanos deixou de ser um sonho e começou a materializar-se. O distrito de Gurué, na província da Zambézia, foi o primeiro a beneficiar-se do projecto. O trabalho de pesquisa para a construção do sistema de abastecimento está a um bom ritmo e se espera que, até Fevereiro de 2023, cerca de 70 000 pessoas tenham acesso a água potável.

Para garantir a manutenção da maquinaria e a sustentabilidade do sistema, pretende-se cobrar um valor simbólico aos consumidores. “A gestão do projecto será alocada a uma empresa especializada e vai cobrar uma taxa mínima aos consumidores”, indica Ryan.

A construção dos restantes 7 sistemas de captação e abastecimento de água, está prevista para arrancar ainda este ano e levará cerca de um ano para o término.

A Operation Water trabalha no modelo de parceria público-privada, com participação do Governo e algumas empresas privadas do sector de energia eléctrica e gestão de sistemas de abastecimento de água.

Um ciclo de novas possibilidades

A crise de água afecta vida das comunidades, em particular das mulheres e crianças, a diversos níveis. Onde há escassez do precioso líquido, falta saneamento, há níveis alarmantes de malnutrição, as desigualdades de género acentuam-se, há falta de oportunidades económicas, entre outros problemas.

Quando a água potável começar a chegar às comunidades, através do projecto Operation Water, espera-se a redução do tempo em que as mulheres e as crianças levam para ir buscar água para as suas famílias. E, consequentemente, melhorar a qualidade de vida de toda a comunidade.

“Estamos a trabalhar para o empoderamento da mulher. Queremos que elas tenham mais tempo para dedicar-se a criação de negócios, cuidar da sua família ou qualquer outra actividade que elas desejam e não têm tempo para fazer. Assim, quando as mulheres não precisarem mais de ir ao poço buscar água, vamos impulsionar a economia ao nível das comunidades”, promete Ryan.

O estímulo a economia à escala local é um outro projecto que se pretende em identificar mulheres com potencial para ensinar habilidades para as outras mulheres, como por exemplo agricultura, costura e artesanato, criando assim uma cadeia de valor. “Esperamos formar agricultoras ou costureiras com alta qualidade e capazes de produzir em grandes quantidades.”

Outro grande impacto desta iniciativa na vida das comunidades está relacionado com a electrificação de áreas que antes não tinham acesso à energia eléctrica. Levar água ao interior de Moçambique implica directamente levar energia eléctrica, porque os sistemas de captação e abastecimento de água funcionam por via da corrente eléctrica. E, no nosso país, onde falta água quase sempre também falta electricidade.

“Decidimos criar os nossos próprios sistemas de geração de energia elétrica e será energia sustentável. Sabemos que não será possível fornecer água a para as pessoas sem energia eléctrica, assim sendo temos parcerias para levar água e energia para as comunidades. Permitindo que as machambas sejam mais produtivas, pois terão sistemas de irrigação. A conservação e processamento dos alimentos também vai ser melhorada uma vez que deixará de ser manual.

Pensar futuro

Em Moçambique, as taxas de mortalidade infantil ainda são altas, dados da UNICEF indicam que cerca de 320 crianças morrem diariamente devido a doenças como malária, infecções respiratórias e diarreia. O consumo de água de baixa qualidade ou falta dela para o consumo tem o seu contributo na mortalidade infantil, porque é a principal causa de diarreias e por vezes surtos de cólera.

Outro grande impacto negativo da crise de água na vida das crianças é o baixo rendimento escolar e desistência, em alguns casos. As crianças acordam de madrugada, percorrem vários quilómetros e carregam volumes de mais de 20 quilos de água na cabeça. Devido a este tempo de trabalho e esforço físico, as crianças chegam cansadas à escola e não raras são as vezes que faltam as aulas para ajudar na busca pela água.

“Quando tivermos água nas comunidades, as crianças passarão a ter mais tempo para dedicar-se aos estudos e melhorar o seu aproveitamento. Elas acordam cedo para ajudar as suas mães a buscar água para o consumo doméstico e isto interfere no seu aproveitamento escolar. Também, poderão ter mais horas para fazer os seus deveres escolares uma vez que as suas casas estarão electrificadas e estudar de noite deixará de ser um problema.”

Pela importância do projecto, já se começa a trabalhar para levá-lo a outros lugares. Empresas com programas de Responsabilidade Social Corporativa relacionados à água, empoderamento das mulheres, alívio da pobreza e desenvolvimento da juventude são chamadas a colaborar.

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