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Texto: Eduardo Quive

Foto: Yassmin Forte

Edição 82 JAN/FEV| Download.

Ukanyu – A bebida dos deuses 

  

Da árvore sagrada vem a bebida espirituosa. Ukanyu, chamam-na os rongas que fazem dela o ritual da evocação e a renovação de energias. Uma procissão para o que vem no futuro. Mas comecemos pelo passado. Afinal, é no convívio que faz todo sentido a bebida tradicional das terras de Marracuene, estendendo-se, afinal, por toda a província de Maputo e nalgumas partes de Gaza. O canhú ou nkanyu é a árvore enorme, tendencialmente alta e com a ramificação a espalmar-se. Noutros cantos do continente africano é chamada de marula, entre nós, é o canhoeiro.

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Em Fevereiro, celebram-se as colheitas e agradece-se aos deuses pelas lutas do dia-a-dia, vencidas ou por vencer. Esse gesto de gratidão tem o seu epicentro no canhú. E a evocação é feita no canhoeiro. Todos reunidos, conhecidos e desconhecidos, sem as formalidades da vida moderna, preparam-se os pratos tradicionais, a nyangana, as folhas de feijão nyemba, a mboa ou folhas de abóbora, um peixe assado, o caril de amendoim ou a já conhecida e esperada carne de hipopótamo das águas do rio Inkomati, com xima, tudo oferecido pelos ancestrais, esses que estão a “dormir com Deus”, por isso, senhores e senhoras da sorte dos vivos.

Há quem prefira a bebida do canhú doce, um sabor exótico e único, refrescante. Mas atenção, tem gás, convém sempre consumir aos bocados. Os nativos preferem-no já com teor alcoólico. Na verdade, é assim que também os deuses ordenam. Não nos esqueçamos, essa é a árvore dos espíritos e os frutos são o reflexo da sua generosidade, daí que o primeiro gole, a eles é dedicado. Uma evocação aos espíritos, que os tsongas chamam de ku palha ou mhamba.

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