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Texto: Elton Pila

Foto: Ildefonso Colaço

Edição 75 Set/Out | Download.

Parque de Infraestruturas Verdes da Beira

Monumento à transformação

A manhã arrasta a maré. Mas a terra, enlameada, parece viva. A cidade espreita entre o mangal nas margens do rio.  Estamos no Parque de Infraestruturas Verdes da Beira, erguido em nome do rio, a serpente de água que fez crescer a cidade.

Já havíamos cá estado, em 2020, para uma visita guiada por Maria de Pinto Sá, a curadora artística da exposição permanente que é também um diálogo de gerações de artistas visuais e de esbatimento de fronteiras. Não estavam ainda, oficialmente, abertas as portas. O silêncio era rompido por nossos passos arrastados que pareciam ameaçar as aves aneladas aos ramos das árvores. Neste regresso, as aves parecem mais habituadas ao movimento dos visitantes, como se estivessem conformadas com a sua posição de cartão de visita do Parque.

Somadas às quatro bacias são cerca de 40 hectares que tornam o pulmão da Beira no maior Parque Urbano de África.

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Inaugurado em 2020, como explica Obedias Muchina, diretor do Gabinete de Comunicação e Imagem do Município da Beira, o Parque foi o culminar de um projecto de reabilitação do canal do rio Chiveve feito em 2013. “Durante a reabilitação do esgoto a nível da cidade, viu-se a necessidade de conservação do rio Chiveve e foi pensado num Parque que pudesse aproveitar as margens”, diz-nos Muchina.

Somadas às 4 bacias são cerca de 40 hectares que tornam o pulmão da Beira no maior Parque Urbano de África.  Com as infraestruturas, geridas pela Empresa Municipal do Rio Chiveve, cerca de 30 mil famílias que sofriam com inundações já não amaldiçoam à época chuvosa. O rio é o ponto de chegada de valas de drenagem que escoam águas residuais. Mas também a válvula de escape para as águas de um mar quase sempre revolto.

Nas margens do rio, foram (im) plantadas cinco espécies de mangal. Várias outras espécies de árvores também podem ser vistas nas inúmeras áreas verdes, com destaque para o jardim de baobás pronto a rebentar nos próximos anos. E há árvores, arrancadas pela fúria do ciclone Idai em 2019, que, com o cinzento do desgaste, continuam a servir de testemunhas daquele fenómeno que foi um divisor de águas. Mas também testemunham a resiliência de que a Beira é já um grande exemplo. Como se lê em um dos letreiros, as árvores mortas são habitats naturais de outros seres vivos. Chegamos então a Lavoisier: na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. E este Parque é um grande monumento à transformação.

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