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O verde do jardim e das árvores à volta da Fundação Fernando Leite Couto ganhava singular realce com o sol intenso que se posicionava no alto da cidade de Maputo.


Entrevista: Leonel Matusse Jr.

Fotos: Jay Garrido

Entrevista | Veja aqui

Encontros Índicos com Wazimbo e Eliana Nzualo

Dois artistas a reflectirem o seu tempo

O verde do jardim e das árvores à volta da Fundação Fernando Leite Couto ganhava singular realce com o sol intenso que se posicionava no alto da cidade de Maputo. Nos sofás brancos da Biblioteca, no primeiro piso, Wazimbo e Eliana Nzualo começavam a tecer conversa.

A tripulação a bordo rumava para os Encontros Índicos. A iniciativa, que resulta de um segurar de mãos entre a Revista Índico e a Fundação Fernando Leite Couto, pretende ser uma viagem em busca do improvável.

“Os artistas conseguem ler a sociedade”, observou Eliana Nzualo, uma artista multidisciplinar que se apropria da linguagem escrita, da música como DJ e das artes plásticas para contar histórias.

Dirigindo-se a Wazimbo, sentado a sua frente, com duas mesas de centro ovais a marcarem o distanciamento destes dias, Nzualo prosseguiu: “quem faz arte traz a experiência e a consciência das pessoas, ilustra como vêem e entendem o mundo”.

Rodeados de livros, pinturas, esculturas de diferentes gerações, Wazimbo e Eliana Nzualo inauguravam a série de conversas “Encontros Índicos”.

“Se eu tivesse hoje vinte ou trinta anos, teria escolhido outra profissão, mas já não tenho condição de o fazer” – Wazimbo

As músicas “Provinciano” e o hit “Sapateiro” seguem esse fio, assumiu o galã de 72 anos, 55 dos quais dedicados a arte, numa carreira em que se destaca o trabalho com o Grupo RM e um percurso a solo de salutar.

Rodeados de livros distribuídos em prateleiras brancas, as paredes compostas por pinturas, esculturas de diferentes gerações tal qual os dois artistas que inauguravam ali esta série de conversas.As músicas “Provinciano” e o hit “Sapateiro” seguem esse fio, assumiu o galã de 72 anos, 55 dos quais dedicados a arte, numa carreira em que se destaca o trabalho com o Grupo RM e um percurso a solo de salutar.

A jovem Eliana, autora do livro infantil “Elefante Tendai e os primos Hipopótamos” comparou o artista ao sociólogo pela capacidade de traduzir o quotidiano.

“Provinciano”, recuperou Wazimbo, enquanto acomodava-se na poltrona, está ligado as paisagens, ao vilarejo, um lugar calmo que hoje já não existe e aos sonhos e imaginários que tem dos habitantes de Chibuto, na província de Gaza, na curta passagem que teve na infância.

“É o que acaba de dizer” – reagiu Wazimbo à provocação dos moderadores da conversa sobre o facto da função do artista ser despertar a sociedade.

Eliana Nzualo então revelou que se revê na cantora norte-americana Nina Simone para quem o artista deve retratar o seu tempo. “É um pouco isso, escrever um livro que retrate os dilemas de uma geração, num espaço e tempo específico”, esclareceu.

“Quem faz arte traz a experiência e a consciência das pessoas, ilustra como vêem e entendem o mundo” – Eliana Nzualo

Na impossibilidade de aceder a uma bola de cristal que a permita espreitar o futuro, a jovem teve reservas para falar de projectos. “Não sei onde o mundo estará nos próximos 10 ou 15 anos. Espero que esteja mais alegre e melhor do que está hoje”, perspectivou Eliana.

Wazimbo tomou a palavra e assumiu que olha para o futuro com muita ansiedade desde os 15 anos quando se envolveu na música. As cinco décadas de carreira são uma viagem cuja bagagem é também recheada de frustrações. “Se eu tivesse hoje vinte ou trinta anos, teria escolhido outra profissão, mas já não tenho condição de o fazer”, disse o intérprete. Mas não perdeu a esperança. “A minha perspectiva futura é insistir e contribuir no que me for permitido para a melhoria deste lado”.

Entre as suas preocupações, está o facto de não sentir que o Ministério da Cultura e Turismo esteja a fazer alguma coisa pelo sector e a Associação dos Músicos esteja aquém do pretendido.

A juventude, especulou Wazimbo, não se filia as agremiações de artistas por não ver a mais-valia dessa opção. “É como se as mesmas não tivessem influenciado transformações importantes no sector”,

Para Eliana Nzualo, há essa desilusão generalizada que permeia os artistas, tanto de 70, 50, 40 anos até aos mais novos.

“Vou defender os jovens, na qualidade de jovem que escreve e não está filiada a associação”, posicionou-se, “não posso deixar que o associativismo me atrapalhe”. E acrescentou: “se eu sentir que o espaço não é fértil para a minha criação artística, me afasto desse espaço, esse não-espaço que ocupo me liberta”.

 

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