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Texto: Vittoria Di Lelio

Foto: Mauro Vombe

Edição 73 Maio/Jun | Download.

Um paraíso para chamar atenção

O que é um paraíso se não um jardim cercado, um lugar de harmonia e conforto?

No início, parecia impossível construir um condomínio tendo em conta as técnicas da bio-construção. Demasiado caras, era o comentário mais comum. Ainda bem que existem visionários que acreditam. O resultado está à vista em Maputo. Foi pensado e desenhado por dois arquitectos, Ernesto Gonzalez e João Athayde, e lhe deram o nome de Paraíso.

Uma casa sustentável poderia ser descrita como a encarnação do conforto de vida e de todos os princípios da bio-construção. De facto, uma casa sustentável deve ser capaz de satisfazer todos os padrões modernos de conforto sem sobrecarregar o equilíbrio ambiental em termos de material utilizado e requisitos energéticos.

Mas a palavra sustentável substituiu esse conceito e virou um chavão bom para todas as ocasiões.

Em Moçambique, por exemplo, a construção das casas não foge desta lógica, demonstrado pelo facto de que, por exemplo, ainda não existem isenções de impostos, proibições de sistemas poluentes e exigências de cálculos de eficiência energética. Por isso, a aventura “ecológica” destes dois arquitectos em construir não uma simples casa, mas sim um condomínio “ecológico” foi uma pequena revolução no panorama moçambicano. O condomínio ganhou o Prémio de Sustentabilidade Ambiental – Real Estate Awards 2017.

O empreendimento localiza-se em Laulane, num terreno de esquina próximo das vias de acesso para a baixa de Maputo. A brisa do Índico é a sua linfa: as casas do Condomínio Paráiso foram concebidas para maximizar a luz natural e a ventilação cruzada ao longo do dia e da noite, como quando não existia o ar condicionado.

Desde a fase teórica até à realização concreta, o projecto foi em nome do impacto zero e de custos relativamente baixos. “Acreditamos firmemente que os princípios de concepção devem estar disponíveis para todos os que querem construir a sua própria casa, independentemente do orçamento”, afirma Ernesto Gonzalez, arquitecto argentino a viver em Moçambique há mais de trinta anos.

“Em Moçambique, não existem fábricas de materiais para obras pelo que muitas das escolhas foram feitas com a intenção de mostrar que existem materiais ecológicos que poderiam ser fabricados em Moçambique e que tiveram de ser trazidos de fora”, explica Gonzalez.

O Condomínio Paraíso ganhou o Prémio de Sustentabilidade Ambiental – Real Estate Awards 2017.

Para o pavimento, por exemplo, foi escolhido o bambu, uma árvore que cresce rapidamente, dois anos contra 40 anos de uma árvore de boa madeira para pavimento. As listas de bambu (feita de um composto com resinas ecológicas que tem uma resistência 10 vezes maior que a madeira mais resistente) vieram da África do Sul, pois em Moçambique ainda não existem fábricas de processamento.

“Qualquer intervenção deste tipo, neste momento, só pode ser uma chamada de atenção, já que não existem incentivos para que o empreiteiro prefira as opções ecológicas”, afirma o arquitecto.

Numa casa ecológica, cada detalhe é concebido para garantir um elevado nível de conforto de vida, respeitando plenamente a natureza. Por isso, foram usados tijolos, 100% moçambicanos, de solo-cimento composto por 10% de cimento e 90% de terra fabricados com prensa hidráulica, sem recurso a calor. Esta composição conserva a temperatura interior mais fresca durante o verão e mais quente durante o inverno. As casas têm um duplo sistema de água, as águas limpas são recolhidas e bombadas novamente para alimentar os autoclismos, evitando o desperdício de água boa para o consumo. A água da chuva é retida pelos tectos verdes e o sobrante recolhido para a sua reutilização.

Cada detalhe garante um elevado nível de conforto de vida, respeitando plenamente a natureza: recuperação de águas pluviais, isolamento térmico e acústico. Um resultado final funcional e concreto, sem qualquer impacto visual ou desordem ecológica. Um pequeno paraíso, radicalmente simples, entre toneladas de betão que, infelizmente, estão a mudar a paisagem das nossas cidades em franca expansão.

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