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Texto: Leonel Matusse Jr.

Foto: Yassmin Forte

Edição 72 Mar/Abr | Download.

Feijão nhemba

Do pão com badjias de todos os dias

“Uma excelente fonte de proteínas, vitaminas do complexo B, carboidratos, fibras e outros nutrientes essenciais como o ferro e o cálcio”

“Salta cerveja estupidamente gelada pr’um batalhão/E vamos botar água no feijão”, canta Chico Buarque na música “Feijoada Completa”, a anunciar que está a chegar à casa com amigos. Não chega a dizer se da farra da sexta-feira ou do futebol numa manhã de domingo.

Se pudesse até o entrevistaria para saber se o personagem dessa música é o mesmo de “Construção”, que, como canta nesta outra, “comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe”, antes da sua queda definitiva do prédio que estava a edificar como pedreiro.

Caso a resposta fosse sim seria a celebração destas sementes domesticadas no continente africano e que fazem o sorriso de muita gente pelo mundo. É também uma excelente fonte de proteínas, vitaminas do complexo B, carboidratos, fibras e outros nutrientes essenciais como o ferro e o cálcio.

As badjias, salgadinhos fritos, típicos da culinária da Índia, mas populares em Moçambique, são as iguarias que mais aprecio feitas com a farinha de feijão nhemba. E em frente a casa da minha mãe era vendida pela mamã Maria. E, hoje continua a ser, um acompanhante do pão no “matabicho”. O modo de preparo, explicou-me a senhora, é misturar a farinha de feijão nhemba com fermento, sal, alho pilado, açafrão-indiano e por vezes outros condimentos.

Caro leitor, se por acaso tiver o contacto do Chico Buarque, por favor marque para mim uma entrevista. Preciso explicá-lo que, com este feijão que tiramos dos distritos de Homoíne, Vilankulo, Morrumbene, Massinga, na província de Inhambane; Macia, Manjacaze, Xai-Xai, em Gaza; Manhiça e Marracuene, na província de Maputo, fazemos a feijoada à moda do Ibo, um prato da culinária de Moçambique, feito com galinha e camarão.

Mas também quero perguntá-lo qual a técnica para lapidar a palavra ao ponto de sob esta estrutura frágil e sensível como as portas velhas que Pekiwa esculpe, que é a língua na qual o músico se expressa. Procuro por ela para descrever as vivências dos camponeses que produzem o grão para vender e consumir com arroz branco na sua ruralidade.

Na hipótese de não conseguir a entrevista, agradeço simplesmente que, quem puder, me responda se ele, como eu, também gosta de feijão e de badjias?

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