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Se cada uma das nossas acções tivesse o mesmo prazo de validade que o planeta, provavelmente pensaríamos com maior acuidade antes de concretizarmos qualquer acção que o prejudique.


Texto: Eliana Silva

Foto: Cedidas pela BioMec

Edição 65 Jan/Fev | Download

Marta Uetela – A lição do empreendedorismo sustentável

“Do mar para a rua” é o “mantra” da BioMec e aos poucos, enquanto Marta melhora as vidas das pessoas com desafios de mobilidade, a BioMec torna-se numa referência para soluções biomédicas.

Se cada uma das nossas acções tivesse o mesmo prazo de validade que o planeta, provavelmente pensaríamos com maior acuidade antes de concretizarmos qualquer acção que o prejudique. Sem moralismos, mas com determinação, inovação e criatividade, Marta Uetela encontrou uma forma de responder a uma necessidade através da reutilização de plásticos do mar. Curioso?

Marta Uetela criou a BioMec porque um amigo precisava. A motivação parece simplista, mas não é a partir dos gestos mais simples que surgem as grandes acções? Esperemos que sim, já que a jovem moçambicana de 24 anos criou uma start-up que desenvolve próteses sustentáveis depois de um amigo ter sofrido um acidente de viação.

Os desafios que o amigo teve de ultrapassar serviram de impulso para que Marta Uetela encontrasse uma solução mais acessível, mais rápida e com um menor impacto ambiental. “Após uma pequena pesquisa, descobrimos que 90% da população amputada em Moçambique não tem acesso às próteses, pelos elevados preços, pela demora até as terem afectivamente na sua posse e pelo acesso aos serviços de saúde”, conta a jovem designer, através de correspondência electrónica.

O objectivo de Marta é apresentar próteses de alta performance a custo controlado, mantendo sempre uma especial atenção à questão ambiental, estética e com um curto período de tempo de desenvolvimento.

Na prática, as redes e garrafas plásticas são limpas, trituradas e depois colocadas numa máquina de granular, que produz pequenas bolas de material prensadas numa forma de aço. São necessárias 6 garrafas PET e 2 m2 de redes para fazer uma prótese para quem tenha sofrido uma amputação transtibial (abaixo do joelho).  Depois de finalizadas, as próteses custam cerca de 3.600 meticais.

“Do mar para a rua” é o “mantra” da BioMec e aos poucos, enquanto Marta melhora as vidas das pessoas com desafios de mobilidade, desenvolvendo e expandindo os projectos de construção de próteses sustentáveis, a BioMec torna-se numa referência para soluções biomédicas, práticas e ecológicas a preços competitivos. Este ano a BioMec foi considerada a segunda melhor start-up criativa em África e entrou para o Top 16 mundial no ClimateLaunchPad, a maior competição de negócios verdes a nível global, depois de participar numa acção desenvolvida pela ideiaLab.“Sempre fui apaixonada pelo ambiente, o que acabou por me levar ao envolvimento com algumas organizações viradas para educação ambiental e desperdício zero. O maior desafio sempre foi reutilizar o plástico retirado das praias. A meio de uma das recolhas pensei: porque não usar o plástico apanhado na praia?”, conta Uetela.

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