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Texto: Eduardo Quive

Foto: Yassmin Forte

Edição 75 Set/Out | Download.

Ivandro Maocha e a plataforma NetKanema

A roda giratória do cinema moçambicano

Quando o realizador e empreendedor Ivandro Maocha idealizou a plataforma NetKanema, cruzou a fronteira tênue que existe entre uma paixão e um sonho maior. As paixões várias vezes são do íntimo, do privado, mas os sonhos, quanto mais crescem de tamanho, são impossíveis de ser segredo e precisam de outros actores. Como nos filmes, não se pode desempenhar as tarefas de realizador, actor, roupeiro, luminotécnico, guionista, operador de câmara, editor de vídeo, e espectador, sozinho.

Desde 2019 que a plataforma que o seu mentor orgulha-se de intitular “primeira plataforma mocambicana de cinema mocambicano”, dando brilho a repetição como também demonstra o seu estado anímico, como se tudo corresse a mil maravilhas. Mas Ivandro Maocha conhece o caminho que escolheu, está ciente das pedras no meio desse caminho, mas sabe virar-se, tem até aqui no NetKanema um projecto maior que a profissão e as paixões.

NetKanema tem funcionado em pleno há cerca de três anos, disponibilizando  filmes e documentários de longa e curta duração, seriados, programas de televisão e  lmes de animação.

O realizador proprietário da Maocha’s Filmes, responsável pela marca NetKanema, explica a plataforma como uma gota no oceano no meio do boom da indústria do streaming que parece que a pandemia só veio para ajudar a afirmar a sua inevitabilidade. “Sei que provavelmente estamos a ser muito ousados, estamos cientes que estamos num país em que o acesso às tecnologias de informação e comunicação é muito baixo, não nos podemos comparar ao Netflix”. Mas aponta o caminho, com a certeza que deste lado do Índico, pode se estar diante de uma oportunidade de “unir” o cinema e torná-lo sustentável, se auto financiando, ou seja, com gerando maior interesse e novos consumidores e assim, gerar-se uma indústria que, finalmente pode se libertar das amarras do financiamento quase todo ele sempre “externo”.

“Todos os cineastas ou as produtoras deviam compreender o NetKanema como o lugar principal dentro de Moçambique para a exibição dos seus filmes. Muitas vezes a preocupação dos autores está fora de Moçambique, fazem os filmes a pensar nos festivais, nos prémios, exibir nas salas na Europa por aí fora, isso não é mau, mas que saiam com este selo de que todo o moçambicano tem acesso a eles e a NetKanema pode ser esse lugar privilegiado por agregar a todos. Assim, teríamos todas as produções disponíveis, aumentaria o interesse do público, o que gera dinheiro das subscrições e poderíamos pagar aos autores e ainda financiar novas producoes”.

A única base de dados geral de cinema moçambicano é o NetKanema.Só isso já nos deixa orgulhosos pela ousadia.

A ideia não é estabelecer fronteiras, mas é ainda criar pontes seguras que permitam a sustentabilidade, liberdade de criação e um sentido de pertença por parte dos moçambicanos que parecem, na sua maioria, desconhecer os filmes que se fazem no país.

O NeKanema tem funcionado em pleno a cerca de três anos, disponibilizando variados conteúdos audiovisuais, filmes e documentários de longa e curta duração, seriados, programas de televisão e filmes de animação. A maior parte dos filmes está disponível gratuitamente.

“Temos filmes que estão no circuito comercial que também podem ser vistos na plataforma pagando. Se, por exemplo, alguém entrar na plataforma e quiser ver ‘Comboio de Sal e Açúcar’, terá de pagar 200 meticais válidos por 24 horas. E, noutro caso, que seria o que torna a plataforma sustentável, são as subscrições mensais. São subscrições no valor de 200 meticais que dão acesso a todos os conteúdos”.

Tem ainda a componente de live streaming, mas essa está ainda por explorar por questões de viabilidade de mercado e de parcerias. Ivandro Maocha refere-se a alguns contactos nesse sentido, sobretudo no pico da pandemia, com alguns festivais que tiveram de emigrar para as exibições online por conta do impedimento do público nas salas de espectáculos, mas que não chegaram a concretizar-se até ao momento.

Apesar do baixo consumo do cinema nacional, Ivandro Maocha só vê razões de orgulho e de uma provável afirmação do NetKanema. Mas sem muitas ilusões, sabe que nem tudo depende de si e do investimento exclusivo que a Maocha’s Filmes tem feito até aqui no projecto.

“A única base de dados geral de cinema moçambicano é o Netkanema. Só isso já nos coloca orgulhosos pela nossa ousadia. mesmo sabendo que não existe muita credibilidade ainda no cinema nacional, conseguimos uni-lo num só sítio. Cada uma das produtoras, a AMOCINE, a Ébano, Promarte, Mahla, etc, têm o arquivo dos seus filmes. Mas em nenhum outro sítio, uma livraria, uma loja, seja lá o que for, podemos encontrar diversas obras de diferentes produtoras do cinema moçambicano. Neste contexto, NetKanema devia ser um orgulho nacional”.

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1 Comment

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  1. […] Fonte: Revista Índico […]