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Mia Couto Convida: Agnaldo Bata – Sonhos Nossos

Mia Couto Convida: Agnaldo Bata – Sonhos Nossos

O meu convidado é autor do livro “Sonhos Manchados, Sonhos Vividos”. Chama-se Agnaldo Bata e foi distinguido com a menção honrosa do Prémio Literário Imprensa Nacional Casa da Moeda Eugénio Lisboa, em 2018.  Este prémio é uma rampa importante para a promoção do talento de autores moçambicanos, sobretudo jovens, tal é o caso dos vencedores: Pedro Pereira Lopes, Aurélio Furdela, Sérgio Raimundo, e de outras menções honrosas, Japone Arijuane e António Manna.

Na esteira da recensão feita pelo jornalista José dos Remédios, “o romance gira à volta das relações de amizade entre jovens que têm sonhos comuns, entretanto muito difíceis de concretizar. Ao invés de se deixarem levar pelas dificuldades, Gertrudes (a protagonista) e os seus amigos encontram formas de viverem os sonhos sempre por acontecer. Deste ponto de vista, o livro de Bata é um romance com um peso motivacional muito forte, pois derruba os limites responsáveis por conter os desejos de as pessoas voarem para outras altitudes. Certamente, há-de ter sido esta a intenção do autor ao escrever esta história muito próxima às circunstâncias em desenvolvimento na actualidade moçambicana”. Vale a pena ler este livro de Agnaldo Bata que introduz uma nova proposta de renovação nas nossas letras.

Agnaldo Bata – Sonhos Nossos

EXCERTO

Poucas horas após o raiar do sol, Pedro decidiu distanciar-se ligeiramente do centro da vila para tentar refletir em torno do que estava a acontecer e o local ideal para o fazer naquele dia era a antiga pista de aviões, já encerrada há muitos anos. Sentou-se numa pedra e descolou o chapéu da cabeça mantendo o olhar sereno sobre a pista como se estivesse a prestar uma vénia. De onde estava sentado, a sua vista permitia-o contemplar a pista na totalidade, do início ao fim. Quantos quilómetros de comprimento devia ter aquela pista e quantos de largura? Qual teria sido o último avião a decolar dali? Pedro não sabia responder, porém, tinha a certeza de que o seu pai saberia fazê-lo e talvez fosse por isso que sentia mais dor ao olhar para pista porque apesar dos anos de convivência com ele, nunca se dera espaço para ouvir os seus devaneios sobre aquela mítica pista.

Mestre Macossa, como era conhecido o seu pai por aquelas terras, passara toda a sua vida a cuidar daquela pista, desde a independência quando os portugueses partiram com as suas avionetas. Foi sua missão nesses anos todos narrar as lendárias aterragens que testemunhara como funcionário de tráfego do pequeno aeródromo da então vila de Macossa, assim como manter a pista limpa e em condições adequadas para uma possível aterragem. Mestre Macossa dizia que, depois do Aeroporto de Chimoio, aquele era o mais importante de toda a província de Manica e que um dia haveria de recuperar a glória perdida.

In “Sonhos Manchados, Sonhos Vividos”

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