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Texto: Elton Pila

Foto: Jay Garrido

Edição 68 Jul/Ago | Download.

Especial desporto

Nota do editor

Festa olímpica

Depois de um ano suspenso, ainda que com a pandemia a continuar a espreitar pela janela, o Desporto volta a respirar à superfície. Desporto assim escrito em maiúsculas para abarcar todas modalidades possíveis. E os Jogos Olímpicos, que são esta celebração do Desporto, das nações, da humanidade, da vida, embora com as limitações de público impostas pela pandemia, regressam este ano e o lugar é Tóquio, Japão.

Moçambique leva na comitiva um naipe de atletas que alimentam esperança de pódio. No momento em que fechamos esta edição, há certezas da qualificação das velejadoras Deisy Nhanquile, Denise Parruque, Maria Machava; das pugilistas Alcinda Panguana e Rady Gramane; do judoca Kevin Loforte; dos nadadores Domingas Munhemeze e Igor Mogne e do canoísta Joaquim Lobo. Mas há outros ainda em fase de qualificação e esperamos que lá consigam chegar para fazer soar ainda mais forte a marcha moçambicana.

A Revista Índico não podia ter uma oportunidade melhor para estrear a nova secção em parceria com Comité Olímpico de Moçambique e Freestyle Talkz, plataforma de produção de conteúdos multimédia. Chamamo-la Especial Desporto e quer ser um espaço de partilha de histórias de vida de atletas que se impõem desafios diários em nome dos assombros que fazem cada manhã valer a pena. Nesta edição, traçamos o perfil das pugilistas olímpicas Alcinda Panguana e de Rady Gramane, sempre a olhar para a amizade entre elas, que as ajudou a chegar ao top 5 do Ranking Internacional da modalidade.

Alcinda Panguana e Rady Gramane

Duas amigas nos Jogos Olímpicos

Não era suposto que Alcinda Panguana e Rady Gramane fossem pugilistas. Era menos suposto que as duas fossem campeãs da África Austral da modalidade. Ainda menos suposto que participassem em um mundial e agora no Top 5 do Ranking Internacional estivessem a caminho dos Jogos Olímpicos. Não era suposto.

Há nove anos, Rady nem sabia que o boxe existia em Moçambique e Alcinda não gostava da ideia de violência associada à modalidade. “Achava que o boxe era porrada e hoje sei que o boxe é porrada” – Alcinda. Foi o destino – para usar uma imagem do pugilismo – a empurrá-las às cordas. Rady só queria emagrecer e Alcinda – como deviam ser todos os amigos – estava disposta a ajudá-la. Corriam diariamente na certeza de que os pés tornariam o corpo de Rady mais leve. Mas o porte físico de Alcinda chamou atenção de Lucas Sinoia, a maior referência do pugilismo moçambicano, que a convidou para a Academia que lhe eterniza o nome. Alcinda estava relutante, Sinoia teve de ser insistente. E naquelas promessas que ao acaso desbloqueiam tudo o treinador disse que era capaz de fazer com que Rady emagrecesse em três meses. “Era inacreditável” – Rady.

As duas começaram a treinar sem nunca pensar em subir a um ringue. “Era só para que Rady emagrecesse” – Alcinda. E emagreceu. “Pesava 102 kg e hoje estou entre 75 e 72 kg” – Rady. Mas em nove anos, passaram de pugilistas amadoras para campeãs regionais, finalistas continentais e competidoras mundiais. “Tudo aconteceu de repente” – Rady.

A reacção das duas famílias foi diferente. A de Rady pensava que ela, que já tinha um temperamento forte, se tornaria ainda mais violenta, mas o tempo provou o contrário. “Até fiquei mais calma” – Rady. A de Alcinda aceitou com relativa facilidade, mas a mãe continua a preferir não assistir aos combates. “Mãe é sempre mais sensível” – Alcinda.

Agora, cada uma na sua categoria, Alcinda na de 69 kg e Rady na de 75 kg, estão a caminho dos jogos olímpicos, depois da qualificação conseguida aos punhos sempre cerrados em Dakar, Senegal. Com a direcção de Lucas Sinoia, o mesmo treinador de sempre, continuam a treinar juntas, uma a ajudar a outra, uma a puxar pela outra, uma a influenciar a outra e isto diz muito dos resultados delas serem sempre similares. “Acho que é sintonia. Mas também pode ser porque eu sou sempre a primeira a combater, então quando perco a Rady fica a pensar que também pode perder e quando ganho ela pensa que também pode ganhar. É psicológico.” – Alcinda.

Aos Jogos Olímpicos chegarão a pensar eliminatória a eliminatória, cientes de que com as posições que ocupam no Ranking Internacional carregam o país nas luvas. Mas já estão habituadas a esta pressão. “No boxe, ou enfrentas ou desistes” – Rady. E onde está escrito boxe se pode ler vida.

Edição 68 Jul/Ago | Download.

 

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