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Texto: Paola Rolletta

Foto: Ricardo Franco

Edição 67 Maio/Jun | Download.

A nova linguagem vinda da pandemia


Os linguistas de todo o mundo concordam: a pandemia colocou-nos perante uma nova linguagem. Muitas vezes é uma linguagem “guerreira”, como o “recolher obrigatório”, por exemplo, ou como os médicos “heróis” e o vírus “assassino”.

A Organização Mundial de Saúde escolheu o termo Covid-19 para não criar discriminação geográfica como “a espanhola”, “a chinesa”, “a asiática”, em referência às famosas influências mortíferas do passado (apenas o antigo Presidente dos Estados Unidos de América, Donald Trump, persistia em chamar à doença “o vírus chinês”). Um excesso de zelo ou esse sentido de correcção política que avança no mundo em nome da inclusão e da diversidade? A OMS, de facto, só tem agido de forma inteligente. Covid-19 é um acrónimo de Co (coroa); Vi (vírus); D (desease, doença) e 19 (o ano em que o vírus foi identificado). É um acrónimo que é reconhecível em todo o mundo.

Já é normal usarmos palavras como pandemia; proteína da espícula; confinamento; isolamento; distanciamento físico.

Assistimos à redescoberta de palavras já existentes, como os termos médicos. Mas muita confusão reina neste mundo. Por exemplo, testar positivo ou negativo para o novo coronavírus. Quantas vezes ouvimos dizer “fulano de tal é positivo”? Todos nós queremos ser ‘negativos’, já que assim significa que não contraímos a doença. Dar positivo é mal, tudo tem que dar negativo. Mas quando fazemos o teste, não somos nós a testar negativo ou positivo, é a doença.

A nova realidade faz com que, às vezes, as coisas já não sejam chamadas pelo seu nome originário. Em vez de “limpar”, parece que agora só é correcto dizer “sanificar e higienizar”. O último exemplo é a quarentena, que poderia tornar-se ‘mini’ e durar sete dias, embora quarentena se chame assim de propósito, isto é, período de quarenta dias.

O fim do isolamento tem outra “invenção” linguística, as “bolhas sociais”. O termo surgiu aquando das recomendações de evitar interacções sociais, limitando os contactos interpessoais. Quando a curva dos contágios achata, as autoridades autorizam a população a expandir o círculo de contactos, isto é, podem expandir a bolha de casa, reconectando-se com a sua família. O contacto entre esse grupo de pessoas deve ser exclusivo; ou seja, as pessoas que fazem parte dessa bolha não podem fazer parte de outra.

As palavras estão sempre a evoluir, servem para descrever a necessidade do momento e são sempre decididas pelos oradores.

Até quando usaremos esses novos termos? Os linguistas de todo o mundo estão de acordo em dizer que é isto impossível de prever. Viveremos com eles enquanto eles forem úteis. As palavras estão sempre a evoluir, servem para descrever a necessidade do momento e são sempre decididas pelos oradores, ou seja, por todos nós.

E ficamos com a sensação de que muitos termos, nesta pandemia, estão constantemente a ser remodelados de acordo com as contingências.

Será que estas novas palavras que definem sensações ou situações ligadas à Covid-19 irão durar no léxico colectivo? Por quanto tempo ainda iremos usar a palavra “covidado”? E “coronado”?

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