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Texto: Paola Rolletta

Foto: Jay Garrido

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Doyenne Initiative

Uma rede para crescimento colectivo

Em Setembro do ano passado, foi lançado em Moçambique o primeiro piloto da Doyenne Initiative, um movimento destinado a seleccionar graduadas moçambicanas para continuarem os estudos de engenharia nos Estados Unidos. O pontapé de saída foi dado numa semana preenchida por testes de matemática e inglês, promovida através do passa-palavra na rede de contactos de mulheres envolvidas no sector da energia.

Doyenne é uma bela palavra que vem do Latim. Significava chefe de dez. Como todas as palavras foi ganhando outras matizes. Em português, significa reitora, decana, mantendo forte o seu primeiro significado de líder. É esse o ADN desta organização não-governamental, composta por mulheres que querem promover a liderança feminina num sector que é predominantemente masculino, o da energia.

Além do farol da agenda global 2030 – que tem no seu quinto ponto a igualdade de género –  o pano  de fundo desta iniciativa tem a irmandade, a solidariedade global entre mulheres, o conceito pós-feminista revisitado que reivindica a igualdade entre mulheres e homens no mundo do trabalho, bem como na vida conjugal e familiar.

“Encontramos Kathy Eberwei, a engenheira americana que fundou a Doyenne Initiative, numa conferência sobre energia em Maputo”, conta-nos Talumba Katawala, da plataforma Mozambique Women for Energy. “Como ela, achamos que as vagas de liderança no sector da energia vêm sempre a ser ocupadas por homens. Também porque as mulheres não têm formação especializada, prejudicando o seu posicionamento nas oportunidades de trabalho criadas na indústria do gás.”

“Moçambique tem a sua história por contar na indústria do gás: a sua página em branco pode e deve ser escrita também por mulheres”, diz Talumba Katawala.

DUAS DAS PARTICIPANTES: CILLA CHILENGUE (EM CIMA) & TÂNIA CHONGO (EMBAIXO) 

A Doyenne é uma rede global de mulheres que querem promover a liderança feminina num sector que é predominantemente masculino, o da energia.

Brevemente serão divulgados os nomes de quatro das oito mulheres que participaram no seminário de avaliação, para avançarem com a sua candidatura junto da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, para o Mestrado e o PhD em Engenharia de Fiabilidade (reliability engineering), ao abrigo de um programa de bolsas financiado pela Doyenne Initiative.

São mulheres graduadas que já trabalham em várias empresas, públicas ou privadas, e vêm de vários lugares do país. Todas motivadas e cientes de que não há mudança na sociedade que possa ser alcançada sem que novos papéis, para além daqueles que já foram adquiridos pelas mulheres, sejam conquistados numa batalha que impõe a globalização.

“Moçambique tem a sua história por contar na indústria do gás: a sua página em branco pode e deve ser escrita também por mulheres em todos os lugares, também nos lugares de decisão. Não é futurismo nem utopia. É o nosso compromisso com a justiça social”, afirma Katawala. “Esta iniciativa abraça a irmandade e a discriminação positiva: ambas necessárias para chegarmos realmente à igualdade de oportunidades.”

A Doyenne é uma rede global de mulheres que se solidariza para fazer deste mundo um lugar mais justo e sustentável. “Após a especialização, as nossas engenheiras serão testemunhas de que é possível mudar o paradigma”, explica Katawala. “Não será imediato. Tendo em conta que as concessões do gás são de dezenas de anos, ao longo dos próximos tempos o seu empenho será de espalhar esta semente para influenciar a governação, seja ao nível político, seja ao nível das empresas, para a construção de uma sociedade que não seja sexista nem discriminatória”.

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