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Texto: Hermenegildo Langa

Foto: Yassmin Forte

Edição 65 Jan/Fev | Download

O pesadelo da pandemia na indústria de cerveja

 Se a pandemia derrubou todos os sectores-chave da economia, a indústria de bebidas, sobretudo a de cervejas, não ficou imune. Com o encerramento dos vários estabelecimentos de diversão e lazer, em Março, pelo decreto do primeiro estado emergência, renovado até Setembro como forma de conter a propagação do SAR-COV-2, as fábricas de cervejas viram as suas receitas baixarem acentuadamente e foram obrigadas a fazer um jogo de cintura para se manterem.

“O ano de 2020 mostrou-nos que devemos ser cautelosos quando se trata de prognósticos futuros”

 

Durante esse período, as bebidas foram vendidas de forma restrita. Em resultado disso e da restrição de consumo, o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou, em Setembro, que durante o segundo trimestre de 2020, a quantidade da cerveja nacional vendida e importada diminuiu em cerca de 93,9 e 51% respectivamente, se comparado ao igual período de 2019. “Em relação ao trimestre anterior, a cerveja nacional vendida aumentou em cerca de 114,9%, enquanto a importada reduziu cerca de 39,1% neste trimestre”, avaliou.

“Estamos perante uma realidade atípica” – é assim que a Cervejas de Moçambique (CDM) caracteriza os primeiros meses da pandemia no país. Esta crise afectou as suas receitas e as mais de 140 mil pessoas que constituem toda a cadeia de produção.

Sem falar em números, Hugo Gomes, Administrador da (CDM), revelou que, apesar da liquidez da companhia que representa estar razoavelmente boa, o encerramento de bares, barracas, discotecas, entre outros, causou sem dúvidas um considerável impacto no volume de vendas. Por isso, “pensamos ser crucial que o Governo aprove um conjunto de medidas fiscais com vista a aliviar o impacto do Covid-19, refiro-me particularmente ao IRPC, ICE e IVA”.

A Heineken, que opera há pouco tempo no território nacional, também não escapou dos resquícios da crise provocada pela pandemia. A nível mundial, este grupo cervejeiro registou, no primeiro semestre, uma perda de receitas avaliada em 500 milhões de euros. Sua receita líquida caiu em 16,4% enquanto as restrições relacionadas ao coronavírus intensificavam-se no segundo trimestre, derrubando suas acções em mais de 5%. Em comunicado, a Heineken acrescentou que as receitas e os volumes de cerveja foram mais afectados nas Américas, África, Oriente Médio e no Leste europeu.

Com eventos para convívios proibidos e barracas e discotecas encerradas, os revendedores de bebidas viram-se sem mercado. Manuel Joaquim, dono de um estabelecimento de revenda de bebidas alcoólicas, num dos bairros dos arredores da capital do país, é exemplo dos revendedores que viram sua actividade comprometida.

“as fábricas de cervejas viram as suas receitas baixarem acentuadamente e foram obrigadas a fazer um jogo de cintura para se manterem”

 

“Até ao final do primeiro semestre, perdi aproximadamente cerca de 1,5 milhões de meticais. Antes de entrarmos no período de emergência, havia feito um bom stock, sobretudo de cerveja, que acabou se deteriorando no estabelecimento”, avançou Manuel Joaquim.

E para evitar um total colapso desta indústria, várias medidas foram adoptadas pelos produtores. “Tivemos que adoptar um conjunto de medidas preventivas em nossas instalações e implementámos uma série de acções internas alinhadas às directrizes emanadas pelo Governo para além de adaptarmos o nosso “modus operandi” à nova realidade”, aponta o Administrador da CDM.

A CDM faz uma apreciação negativa para a actividade económica, contudo revela que 2021 será um ano de prosperidade. “O ano de 2020 mostrou-nos que devemos ser cautelosos quando se trata de prognósticos futuros. De qualquer modo, olhamos para 2021 como um ano de retoma da trajectória de crescimento que Moçambique já nos tinha habituado e pensamos que a CDM será um actor activo no contributo para o crescimento da nossa economia”, concluiu.

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