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Texto: Paola Rolletta

Fotos: Jay Garrido

Edição 71 Jan/Fev | Download.

Fabrizio Falcone – Italiano de nome e moçambicano de coração

Fabrizio Falcone vive e trabalha em Maputo já há quase vinte anos. É sócio-gerente do restaurante Campo di Mare/Clube Marítimo, na marginal de Maputo. Adora o mar, o calor, uma boa mboa de camarão, as cores de Moçambique, país que não trocaria por nenhum outro lugar na terra.

Mas como é que um italiano, sociólogo de formação, decidiu emigrar para Moçambique e se aventurar na restauração? “Por admiração e por amizade”, comenta Fabrizio. Duas palavras que representam os seus valores de vida, segundo ele, acrescentando logo de seguida mais duas palavras que são os mais importantes mundos dele: “o mar e sobretudo as minhas filhas”.

Foi em 1996 quando a câmara municipal de Térmoli, a cidade italiana onde Fabrizio vivia naquela altura, convidou o Mestre Malangatana a pintar uma tela de 40 metros. Malangatana trabalhou ininterruptamente durante 10 dias, não conseguindo acabar a imensa obra. Foi só em 2001 que o Mestre concluiu o tríptico, que doou à cidade, e foi aí que Fabrizio Falcone conheceu o grande pintor moçambicano. “Admiração grande pela obra e pelo homem, um artista universal e um ser humano generoso que me fez apaixonar por Moçambique”, comenta Fabrizio Falcone. Vieram depois as colaborações com Malangatana, durante o projecto da cooperação italiana “Cinemarena” de que Fabrizio foi o principal gestor a partir de 2004 até 2012, com algumas interrupções temporais e geográficas.

“Cinemarena foi o projecto mais bonito e interessante que me podia ter calhado”, conta Fabrizio

“Cinemarena foi o projecto mais bonito e interessante que me podia ter calhado”, conta Fabrizio. “Conheci o país inteiro, as aldeias mais longínquas, onde fazíamos educação para saúde através do cinema, – recorda  – semanas e semanas de viagens, e logo a seguir o pôr-do-sol a montagem da tela, a projecção de filmes, as acções de teatro, enfim tudo que servisse para fazer informação sobre HIV-Sida, cancro do útero, cancro da mama… e muitas sessões de perguntas e respostas”. Foi aí que a paixão pelo País ficou de vez, pelas suas gentes “alegres e generosas, apesar dos muitos problemas”. Hoje, afirma sem qualquer dúvida, conhecer mais profundamente Moçambique do que Itália…

Fabrizio recorda com particular afecto a sessão de Cinemarena em Matalana, mesmo por vontade de Malangatana. “Projectamos o documentário que Isabel Noronha fez sobre a vida do Mestre, ‘Ngwenha, o crocodilo’ mesmo na terra onde nasceu, onde ele sonhava um centro de artes. Foi um privilégio!”.

Acabada a experiência com a cooperação, ficou o amor pelo país. Queria ir viver na costa de Inhambane. “Talvez o lugar mais bonito do mundo”, diz.  Os amigos da equipa de futebol de salão de Maputo, com os quais ganhou várias competições, convidaram-no para ser sócio de uma actividade de restauração. A gestão de projectos de emergência teria ajudado muito mesmo não tendo nenhuma experiência na restauração, pensou. E aceitou o desafio. “Hoje 250 pessoas trabalham connosco, – conta Fabrizio que não tem medo de nada.  “A pandemia tem sido um problema, mas temos aguentado, apelando ao nosso sentido de responsabilidade, todos apertando o cinto para uma ajuda mútua”, realçando como o Cinemarena tenha ensinado muito a esse respeito.

O amor pelas artes plásticas moçambicanas ficou-lhe para sempre. Foi ele que convenceu os seus sócios a fazer uma exposição permanente no restaurante Campo di Mare. “Começamos com uma coleção de esculturas de Gonçalo Mabunda, às quais brevemente se juntará uma coleção de fotos de Mauro Pinto”, explica Fabrizio, cujo restaurante é frequentado por um público variado, também com muitos expatriados. “É a minha maneira de homenagear a memória de Malangatana, contribuir para a difusão das artes plásticas e também da música”. É frequente assistir a belos concertos de artistas moçambicanos de renome no restaurante à beira-mar, italiano de nome e moçambicano de coração.

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