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Texto: Elton Pila

Foto: Yassmin Forte

Edição 76 Nov/Dez| Download.

Mbabane é uma festa

Início de Outubro. Os jacarandás explodem em flor, a iluminar do lilás do sétimo chacra – espiritualidade – à paisagem. Mbabane – Essuatíni é a cidade-chão que acolhe um dos sete festivais africanos de música que a CNN já nos havia avisado que precisamos “realmente ver”. O MTN Bushfire. Cinco meses depois da 13ª edição, voltamos a Mbabane. O mote? Outro festival, Luju, mais dedicado a celebrar Essuatíni na especificidade das suas gentes e cultura. Um segundo acto dos festivais nas terras do rei.

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Porque o que aconteceu com o Bushfire é o que acontece com os maiores festivais do mundo: acolhem tantos rostos e tantas vozes que tornam impossível qualquer associação identitária. Se é verdade que ajuda a levantar a bandeira multicolor da aldeia global, não é menos verdade que, na celebração de todos, é um risco permanente que o particular se dilua. E este Luju quer ser este pé firme sobre a terra, a celebração do local. A música anima a festa e este ano foi da voz local de Oriiginelle a do moçambicano Radja Ali, passando pelos sul-africanos Zakes Bantwine ou Ami Faku ou da luso-cabo-verdiana Lura e se ouviu muito mais de permeio.

Essuatíni não é necessariamente um palimpsesto, é a tradição a braços com a modernidade.

Mas o Luju se anuncia como um Festival de Food and Lifestyle. Também por isso vemos as festivaleiras a esmerarem-se em diferentes modelos de capulanas, este tecido que, embora tenha feito o caminho das Índias, ganhou em África novos contornos que já a ninguém espanta quando se lhe chama africano. Ou os homens que ainda se vestem tradicionalmente, com capulanas amarradas aos ombros e chinelos de couro, reis na sua própria terra. Todos – mulheres e homens que se vestem como se carregassem o Reino – sabem que foram para se mostrar e serem vistos, pousam infinitamente para todas as lentes que lhes são direccionadas. Os rostos das mulheres estão marcados desta maquilhagem a mostrar, mais uma vez, esta abertura ao mundo que a ideia de Reino não nos permite desconfiar. E é isto que é mais encantador em Essuatíni. Não é necessariamente um palimpsesto, é a tradição a braços com a modernidade. Atrás dos murros que fundaram a cidade ou em meio a cidade erguida entre blocos de pedras, resiste uma aldeia, feita de terra, pau e de palha – e de princípios, marcada por uma cascata cujo curso de água a anuncia logo a nossa chegada. O rio é Mantenga, a cascata é Lusuthu. A experiência é de uma vida no reino.

Atrás dos muros que fundaram a cidade, resiste uma aldeia, feita de terra, pau e de palha – e de princípios.

Das danças típicas com chocalhos aos pés marcadas pela flecha e pelo escudo às músicas, tudo reverbera a tribo irmanada pela mesma bandeira. Cantam e não precisamos perceber a letra para lhes sentirmos a energia. Há muito percebemos que as músicas são menos sobre o que se diz e mais sobre a forma como se diz e a forma como nos sentimos quando ouvimos aquilo que se diz. E depois é esta introdução aos princípios desta aldeia, onde os homens e mulheres vivem em espaços diferentes, como se o género oposto fosse um sinal de pecado até a queda da cortina de ferro que se realiza na vida na mesma cubata. E ouvimos – entendemos? –  sobre este ritual que se repete todos os anos, o rei – agora o Mswati III – a escolher sempre mais uma esposa para o seu harém. Com quantas mulheres se faz um rei?

Como ir

Mbabane fica a 221 km de Maputo. A viagem por terra, apesar de cansativa, recompensa pelas paisagens. Mas pode sempre seguir via aérea até o Aeroporto Rei Mswati III, em Lubombo e fazer cerca de 80 km até Mbabane.

Onde dormir

Existe uma infinidade de ofertas. Desde hotéis como Happy Valley até pequenas pousadas como Otentik Guesthouse.

Onde comer

A cozinha do Happy Valley oferece pratos da terra e do mar, a world food. Mas existem mais restaurantes. Se puder sempre acompanhar com uma Sibebe, esta cerveja local, sabe sempre bem.

O que fazer

Se viajar em Maio ou Outubro, assistir aos festivais é indispensável. Visitar a aldeia cultural e ter contacto com uma tradição que apenas em Essuatíni ainda se encontra.

Cuidados a ter

As estradas estão marcadas por lombas, ter sempre atenção aos limites de velocidade. As vacas, algumas vezes, atravessam a estrada, na passividade que lhes é marcada. O ideal é abrandar, deixa-las seguir a marcha e depois seguir o seu caminho.

Destaques

Essuatíni não é necessariamente um palimpsesto, é a tradição a braços com a modernidade.

Luju quer ser este pé firme sobre a terra, a celebração do local.

Atrás dos murros que fundaram a cidade, resiste uma aldeia, feita de terra, pau e de palha – e de princípios.

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