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Texto: Hélio Nguane
Foto: Yassmin Forte

Edição 78 Março/Abril| Download.

António Prista – “Enquanto estamos vivos, há tempo para aprender”

Diariamente, vê o mar, a distância, sem escutar, com intensidade, o som das ondas. Encara Maputo e o mundo em que vive numa perspetiva particular: os cabelos grisalhos e as experiências que teve afinaram-lhe melhor as lentes.

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Enquanto faz nuvens artificiais na varanda, contempla as poucas nuvens que preenchem o céu, revive o início dos anos 1970, os convívios com os amigos, com cantorias de Zeca Afonso. Em sua memória, músicas como “Vejam Bem” e “Traz Outro Amigo Também” ainda ecoam com intensidade. “No tempo colonial, tocávamos músicas proibidas, como forma de protesto contra o sistema. Com a independência, os encontros continuaram regulares, regados de música mais alegres e conversas. No grupo, tínhamos músicos profissionais, como Arão Litsure, Joel Libombo e Hortêncio Langa”, conta.
Quando Prista completou 50 anos, com ajuda do Hortêncio que juntou músicos, realizou um espectáculo para cerca de 200 pessoas. “O ano seguinte passei no Brasil como professor convidado na Universidade de São Paulo. Quando voltei o grupo estava criado”, diz, detalhando que o nome TP50 vem da abreviatura de Tó Prista 50 anos. “Mas agora tem múltiplos significados, estamos preocupados com a divulgação de valores humanos e qualidades artísticas, através de tributos a ideais e pessoas socialmente exemplares”, emenda.
Apesar de estar mergulhado na música, ainda se considera um amante desta arte, sendo que profissionalmente se rotula como professor e investigador interessado nos efeitos da inactividade física, o que lhe fez pesquisar sobre urbanismo para entender como o planeamento físico influi negativamente ou positivamente. “Fui para ciência para estudar a realidade e procurar soluções”, realça.
O ADN do Prista-pesquisador está presente na coordenação do TP50, sentindo-se no nível de organização do grupo e no cumprimento metódico de metas. Como raros grupos, o colectivo tem uma agenda anual publicada no seu site, que inclui três grandes espectáculos. Sendo o primeiro dos quais “Os Saltimbancos”, uma adaptação da peça musical infantil homónima do brasileiro Chico Buarque de Holanda; “Recriançando no CCFM”, um programa de animação infantil, que incluem jogos, dança e música com a participação das crianças. Outra obra é “Olhar Moçambique”, um espetáculo que percorre culturalmente Moçambique. Baseado em textos de Calane da Silva, a apresentação multidisciplinar pretende escalar vários pontos do país.
Prista só sentiu, com veemência, o impacto do grupo na celebração dos 10 anos. “Percebi que não tínhamos como parar”. E não pararam, o grupo tem hoje 15 anos, cerca de 50 espectáculos, um portal sobre música moçambicana, a caminho do quarto songbook e a agenda lotada. “Mesmo com a escassez de políticas culturais e linhas de financiamento sólidas para o sector, seguimos firmes”.
Com os pés assentes na terra, conta que já acreditou, convictamente, em política e algumas utopias, mas agora pisa o chão das coisas, com teorias científicas e melodias que lhe dão firmeza para criar e ajudar a melhorar o cenário para os que vêm. Também por isso Prista mostra-se preocupado com a nova geração. “Como meu velho amigo Hortêncio dizia, a vida é bela quando fazemos coisas boas para os outros. Os jovens devem ler e interpretar a sociedade para fazer o melhor por ela”, realça, apontando que foi assim que criou os filhos.
“Acredito que a prática molda. Se eu quero que os meus sejam honestos, generosos, tenho que os educar com os meus bons exemplos”, receita, indicando, que além de bons exemplos é um fã incondicional dos filhos, “acompanho os seus trabalhos e apoio de forma activa”, detalha, indicando que três deles fazem parte do TP50.
O futuro ao Ser Supremo pertence, por isso, enquanto ainda respira, Prista mostra-se aberto a novas experiências. “O aprendizado é contínuo. Enquanto estamos vivos, há tempo para aprender”, conclui.

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