Inteligência Artificial – Uma bola de neve tecnológica
Um relatório designado “Government AI Readiness Index”, da Oxford Insights, que mede o grau de preparação dos governos para implementar a Inteligência Articial (IA) na oferta de serviços públicos aos cidadãos, refere que Moçambique.ocupa o 172.º lugar no mundo. Entre os 47 países da África Subsaariana,.está na 32ª posição.
A Inteligência Artificial (IA) avança a um ritmo vertiginoso, ultrapassando até limites que pareciam inimagináveis. De modelos de conversação, como o GPT-4, a aplicações revolucionárias em saúde, ciência, indústria e muitos outros campos, a IA está emergindo como uma das forças transformadoras mais influentes do século XXI.
Os primeiros sinais da IA encontramos no início dos anos 40, com o neurofisiologista Warren McCulloch e o matemático Walter Pitts. Nos últimos anos esta temática ganhou mais espaço nos debates graças aos avanços da área, sobretudo, no que a automação tecnológica (robótica) diz respeito. Actualmente, os recursos da IA são aplicados no contexto corporativo para optimizar processos e melhorar a experiência do cliente. Isso inclui o uso de chatbots para trazer respostas mais rápidas, assertivas e sob medida para o usuário.
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Mas existe outra face. Esta nova dinâmica trouxe inúmeros desafios para os governos, sobretudo na forma como deve ser regulada, mas também sobre como aliar-se a esta evolução tecnológica por forma a permitir uma convivência saudável com as anteriores formas de trabalho.
Vários países do ocidente já observam avanços significativos no uso da IA, onde, por exemplo, algumas actividades já deixaram de ser exercidas pelo homem. Moçambique parece ainda estar atrasado a vários níveis nesta temática. Contudo, o tema já merece muitos debates.
Um relatório designado “Government AI Readiness Index”, da Oxford Insights, que mede o grau de preparação dos governos para implementar a Inteligência Artificial (IA) na oferta de serviços públicos aos cidadãos, refere que Moçambique ocupa o 172.º lugar no mundo. Entre os 47 países da África Subsaariana, está na 32ª posição.
De acordo com o relatório, Moçambique enfrenta desafios significativos em sua prontidão para a IA, pois está numa posição desvantajosa devido à falta de infra-estrutura digital robusta e uma força de trabalho qualificada.
“Muitos países de baixa renda, incluindo Moçambique, têm uma menor proporção de empregos altamente qualificados, o que pode resultar em menos interrupções imediatas pela IA, mas também limita sua capacidade de colher os benefícios dessa tecnologia. A ausência de uma infra-estrutura adequada e de uma força de trabalho qualificada pode agravar a desigualdade em comparação a economias mais ricas que estão mais preparadas para a adopção da IA”, refere o estudo, sugerindo a implementação de políticas focadas em treinamento digital e o desenvolvimento de uma infra-estrutura tecnológica.
Para os académicos, esta situação veio comprovar um certo despreparo de Moçambique para o uso da IA, destacando certas fraudes e manipulações aliadas a esta tecnologia.
Segundo o especialista em tecnologia da informação, Ernesto Langa, a IA veio facilitar tantas coisas em diferentes áreas tanto académicas assim como profissionais, explicando que “se antes era preciso possuir pelo menos uma formação em uma determinada área sobre designer gráfico para conseguir editar vídeos de diferentes categorias ou criar post publicitário, entre outros, hoje a Inteligência Artificial trouxe uma facilitação no uso dessas ferramentas, o que de certa forma é desvantagem para os profissionais”.
A fonte lembra ainda que a IA “não tem leis” sobretudo em Moçambique, por isso, “estamos a migrar para uma era em que muitos funcionários vão ser substituídos por máquinas de inteligência”, pois, basta ter um computador e acesso à internet que a inteligência corrige ou faz tudo por nós, portanto, “é uma vantagem para quem quer algo rápido, mas desvantagem para os que estão formados nessas áreas”.
“Com essas ferramentas muita coisa está facilitada, mas é preciso que Moçambique imponha limites e estabeleça leis para o uso dessas plataformas. Com plataformas de Inteligência Artificial é possível dublar uma voz e fazer com que uma determinada personalidade faça um discurso gerado pela IA, e essas ferramentas são usadas para burlas. Isso tem acontecido aqui em Moçambique, anúncios falsos em que uma figura pública divulga um certo produto. A inteligência artificial faz parte de nós hoje e futuramente seremos afectados por essas mudanças. Mas será que Moçambique está pronto para essas mudanças?”, questionou Ernesto Langa.
Por sua vez, Alfeu Joaquim, engenheiro informático, defende a necessidade de haver mais debate no país por forma a consciencializar os moçambicanos, sobretudo os jovens e académicos quanto às vantagens e riscos no uso da IA. O engenheiro alerta que no sector académico, caso não haja essa consciencialização, a IA poderá contribuir para uma preguiça cognitiva.
“Em Moçambique ainda lutamos com a questão de melhorar a qualidade de ensino, a Inteligência Artificial traz as coisas de forma passiva (a pessoa não se esforça para ter a informação) é uma vantagem sim. Mas, se analisarmos, o espírito de pesquisa, ir atrás da informação está a ser perdido por conta dessas ferramentas. Temos que olhar mais para a questão do futuro”, assinalou, acrescentando que “futuramente podemos ter uma sociedade dependente da IA que não terá mais capacidade de formular ideias sólidas e um pensamento crítico”.
Entretanto, enquanto se fala de despreparo dos moçambicanos para o uso da IA, nota-se que a ferramenta já começou a trazer benefícios para o país. No sector da Saúde, por exemplo, a Inteligência Artificial já é usada para o rápido despiste da tuberculose que faz Moçambique integrar na lista dos 10 países do mundo com uma alta carga da doença.
Implementado num dos estabelecimentos prisioneiro da capital do país, o programa “Stop TB”, apoiado pela ONU, tenta através do uso da IA alimentar a esperança de erradicar a doença numa combinação da tecnologia e máquinas portáteis de raios X.
Para o vice-chefe do programa moçambicano Stop TB, Suvanand Sahu, “a combinação de IA e máquinas portáteis de raios X é mais rápida e elimina a necessidade de visitas a clínicas e radiologistas, que não são em número suficiente em áreas rurais pobres”. “Este é um grande salto em tecnologia”, salientou Suvanand Sahu.
Na verdade, a nova tecnologia é um bem precioso para o mundo e, para Moçambique em particular, pois traz consigo inúmeras vantagens. No entanto, há também necessidade do mundo estar ciente dos seus riscos, visto que onde há vantagens se deve contar desvantagens. Por isso, os governos assim como a sociedade precisam de estar devidamente preparados para esta nova realidade.
Edição 85 NOV/DEZ| Download.
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