Blandina Dimande – A dama da viola d’ arco
“Nós não escolhemos o nosso trajecto literário. Ele é que nos leva às albergarias – termo quase em desuso – desta vida marcada por actos e cenas imponderáveis’’.
O nome já sugeria o caminho do palco – Blandina. A infância passada a ouvir o pai na banda de amigos ajudou a alimentar o espírito. Passou três anos na Escola Nacional de Música, antes de chegar ao Xiquitsi e se tornar a dama da viola d’arco. Agora, frequenta o 3º ano no Conservatório Superior de Canarias – Espanha, ao mesmo tempo que integra orquestras nos maiores palcos do mundo. O futuro passa por regressar a Moçambique e ensinar o que tem estado a aprender.
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Este teu nome já tem um quê de artístico. De onde vem?
O nome tem um toque artístico e tem um toque também de personalidade. Encaixa em mim e vai de acordo com a minha personalidade mesmo. O nome em si tem um significado, que é adorável, simpática e empática. O nome vem do latim.
Como chegas a música?
Eu via o meu pai na minha casa com seus amigos a ensaiarem, a cantarem. Meu pai prometeu me levar à escola nacional de música, não para ser uma musicista, mas para ter um hobby, ter uma actividade extracurricular.
Eu gostava de escutar música com meu pai, nosso tempo juntos era cantar e cantar, era música. Ele meteu-me na escola de música aos 10 anos.
E como foi esse primeiro momento?
Comecei a olhar música de forma diferente, um olhar muito mais profundo, meu pai sempre foi daquele pai típico, ele olha um futuro a longo prazo, então ele começou a falar tipo se continuares assim a te empenhar podias ganhar uma bolsa na escola de música, para estudar música fora de Moçambique.
E como definiste o teu instrumento de carreira?
O meu instrumento foi definido em 2018-2019. O que aconteceu é que eu entrei para o projecto Xiquitsi. Música clássica nunca foi minha vibe, decidi experimentar, porque queria tocar violino. Quando fui admitida, me colocaram na viola de arco. Eu nem conhecia o instrumento. Mas foi amor à primeira vista.
Já começas a colher frutos?
Em Agosto, participei do Festival Mundial de Orquestras que teve lugar nos Estados Unidos em Nova Iorque num dos melhores palcos do mundo. Estive lá com a orquestra jovem de África. É uma organização que foi criada este ano também para esse fim. Foi a primeira vez que uma orquestra africana esteve nesse palco. Estivemos a representar África, eu representei Moçambique, estava com um colega moçambicano, fomos os primeiros moçambicanos a pisar esse palco, representamos o nosso país e continente. E acrescentar também que, antes da estreia em Nova Iorque, estreamos em Pretória uma semana antes.
Como fazer o caminho para popularizar a música clássica?
Olhando para minha própria experiência, música clássica é vista como uma
música elitista.
A fusão de instrumentos clássicos ou orquestra clássica e outros géneros musicais populares, no caso do sul a marrabenta, pode sim atrair o público. Chamar o público para ver a Neyma ou o Stwart com a orquestra Xiquitsi pode ensinar as pessoas a escutar música clássica.
O que estás a pensar para o teu futuro?
Estou a terminar a minha licenciatura. E penso em fazer dois mestrados, agora estou no terceiro ano. Um mestrado em Interpretação ou Performance, outro em Pedagogia Instrumental, então eu pretendo adquirir esse conhecimento para poder contribuir para Moçambique, para que o nosso ensino de musica não se ressinta de falta de profissionais não apenas com experiencia prática, mas também teórica.
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