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Texto: Sérgio Raimundo

Foto: Shutterstock

Edição 75 Set/Out | Download.

Os maravilhosos Matatus de Nairobi

Chega-se a Nairobi e a primeira coisa que se pode fazer é conhecer a cidade através de um Matatu. Matatus são pequenos autocarros que circulam em toda a cidade; quase em todas as esquinas de Nairobi há um Matatu que explode as suas cores e enche a cidade de música alta. Fotografias de Nelson Mandela, Maradona, Bob Marley, Obama, futebolistas, artistas quenianos, escritores e revolucionários podem ser vistas tatuadas nos Matatus. No interior dos Matatus pode-se ver telenovelas, noticiários e videoclipes, pois há pequenos ecrãs pendurados em quase todos os lados.

E os Matatus só circulam no centro da cidade onde há prédios, onde há luzes, onde há polícia, onde há comércio formal, onde há estátuas, onde tudo começa e termina. À periferia, onde jovens pobres passam dias fermentando os fígados em bebidas caseiras, desce-se de moto-taxis. Periferia coroada de areia vermelha e poeirenta.

Claro que a partir do Matatu é possível cruzar as esquinas de Nairobi e terminar na Carnivore Restaurant Nairobi; à primeira vista parece um restaurante perigoso: os serventes surgem armados de facas enormes com ares de espadas, vestidos de peças feitas de tecidos locais; eles servem em mesas carne de avestruz e crocodilo. E a carne de crocodilo, por um instante, parece que volta ao seu habitat quando é invadida ao estômago por uma cerveja queniana: Tusker.

Dizia que de Matatu pode-se vaguear em toda a cidade de Nairobi. Podia falar das belíssimas mulheres que acordam a cidade com seus sorrisos carregados de doces vocábulos de Kiswahili. Podia falar dos clubes nocturnos que, misturando tempos e memórias, fazem dançar a todos. Podia falar das músicas dos anos 70, 80 e 90 que os quenianos produziram para o continente africano, podia falar do país inteiro, mas apenas falo de Nairobi. Falo desse canto.

Pulseiras, camisas, sandálias, colares e sacolas, feitos à mão por artistas locais, podem ser vistos e comprados em mercados de Nairobi. Como não podia deixar de ser, é preciso andar com a mão ao bolso porque há sempre um distraído que prefere procurar o que não tem nos bolsos dos outros. Não que Nairobi não tenha centros e orfanatos para os rapazes que vivem nas ruas, aliás, através do Matatu é possível chegar a um orfanato de elefantes: Sheldrick Wildlife Trust. Um orfanato cheio de carícia, um espaço onde o amor dos homens é celebrado em coro pelas trompas dos elefantes. No Sheldrick Wildlife Trust, é possível ver homens de beberrões de leite estendidos debaixo das trompas de elefantes. E, ao cair da noite, pode-se ver a cidade de Nairobi serena, arrumando-se aos poucos dentro de si, pelas janelas do Mövenpick Hotel. É um hotel porque assim o chamam, mas quem por ele passa percebe que se trata de uma casa escondida dentro do hotel.

Há artistas de rua que enfeitam os murais da cidade com graffiti e lindas mulheres que, missanga a missanga, vão fazendo desaguar nas suas mãos rios enormes de colares.

 

Nairobi, cidade esplêndida. Há quem prefira comer nos improvisados restaurantes de rua, restaurantes onde os pratos tipicamente locais borbulham nos menus. Claro que não há nenhum menu escrito, são as cozinheiras que se aproximam, lavam-nos as mãos e depois apresentam-nos o menu aos ouvidos. E esses pratos sabem bem quando os comemos com os talheres das mãos, até parece que afinam o tempero. E se precisar de levar consigo a comida, é claro que pode; no entanto, não será num saco plástico, não há saco plástico nessa cidade. Um saco plástico na cidade de Nairobi é visto como uma bomba atómica, uma arma letal.

A cidade de Nairobi é vigiada por uma enorme estátua de Jomo Kenyatta; a estátua vigia a cidade bem sentada à porta do Supremo Tribunal do Quénia. E há artistas de rua que enfeitam os murais da cidade com graffiti e não podia deixar de falar das lindas mulheres que, missanga a missanga, vão fazendo desaguar em suas mãos rios enormes de colares. Pode-se, também, desaguar nas águas cristalinas da ilha de Lamu.

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Fui a Nairobi uma vez, mas há nessa vez tantas vezes que não sei contar. Uma das memórias mais tristes que se pode ter nessa cidade é quando se entra ao Westgate Mall, supermercado que em 2013 sofreu um atentado e 67 pessoas foram mortas; a polícia, carregada de armas, ainda tem essa memória, talvez seja por isso que revista sem se cansar a cidade e todos que por ela passam.

Entra-se e sai-se da cidade de Nairobi de Matatu; e à despedida todos levantam-nos as mãos num adeus cheio de restos de comida, porque ugali, prato típico dessa maravilhosa terra, só sabe bem quando é comido à mão, tal como só são lindas as missangas e os colares feitos à mão nas ruas.

▶ Como ir

A Kenya Airways tem voos directos, a partir de Maputo, para a capital queniana. É uma viagem de perto de quatro horas.

▶ Onde dormir

Pode sempre experimentar o Mövenpick Hotel. Mas há uma enorme oferta em Nairobi, dos B&B’s até aos luxuosos.

▶ Onde comer

Do Carnivore Restaurant Nairobi aos improvisados restaurantes de rua, com pratos tipicamente locais, há inúmeras ofertas em Nairobi.

▶ Cuidados a ter

Há sempre um distraído que prefere procurar o que não tem nos bolsos dos outros.

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